ABRAÇOS PARTIDOS


Pedro Almodóvar é daqueles diretores que é carregado por suas características construídas através do tempo. Não digo apenas pela excentricidade nos figurinos ou nos cenários, mas por também levar em seus roteiros alusões e ilusões dentro de uma comédia escrachada até mesmo de um denso drama. 

 Em Abraços Partidos, o diretor busca uma mudança desta fórmula se aproximando mais de um cinema como o de Alfred Hitchcock. Explico. O novo filme de Almodóvar é sim um drama, sobre uma mulher que colhe conseqüências de uma escolha radical para preservar a vida de seu pai, mas junto com esse drama, a carga de suspense, ou como chamamos hoje, do thriller é intensa. Vemos uma história de interesses financeiros e sentimentais, junto com a aposta naquele atraso para o imaginário virar fato, criado pelo diretor de Psicose, que também é lembrado em enquadramentos e movimentos de câmera.

Acompanhamos a história de Harry Caine, um roteirista cego, que vive aos cuidados de sua agente Judit e Diego, um DJ que sonha em fazer seu primeiro filme. Um pseudo documentarista chamado “Raio X” bate em sua porta pedindo ajuda para um roteiro. Voltamos 14 anos no tempo para acompanhar a história de Magdalena, uma secretária que vê seu pai perder a batalha contra o câncer. 

Quando pode, faz programas para aumentar sua renda. Seu patrão, o milionário Ernesto Martel é apaixonado por ela e pode ajudá-la. Sem muitas escolhas, ela acaba encarcerada as vontades do magnata. O diretor de cinema Mateo Blanco escala Magdalena para o elenco de seu novo filme, criando uma intriga entre o diretor e Ernesto. Afinal, quando Harry Caine, Raio X, Judit e Diego entram nessa história? Almodóvar insere aos poucos informações importantes sobre cada um para pontuar a parcela de culpa ou importância nessa história, logicamente intrigando o espectador sobre a natureza de cada personagem. O centro é sim a personagem de Penélope Cruz, mas por interesses alheios, a vida da secretária é uma tragédia anunciada.

Mas quando tudo parece ser resolvido, com os “pingos nos is”, o público espera apenas pelas conseqüências, o que acompanhamos é uma história de superação e perdão. Enquanto a história é remontada, literalmente e em forma metafórica pelo diretor, vemos Harry Caine se libertar de seus fantasmas, de amarguras de um amor perdido. Seria um exagero dizer que Almodóvar largou mão de suas marcas autorais, mas é perceptível que o diretor escolheu contar esta história de maneira menos folclórica e mais séria, “classuda”. Não é uma questão de ser melhor ou pior, pois a qualidade do cinema feito pelo diretor espanhol é indiscutível,  mas a escolha é acertada. Abraços Partidos é um ótimo filme.

Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, Espanha, 2009) de Pedro Almodóvar

4 comentários:

  1. Discordo sobre o texto, mas de qualquer forma, o achei bem inteligente. Mantenha o bom trabalho.

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  2. Triste, mas verdadeiro.

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  3. O filme é arrebatador! Um almodóvar ímpar, apesar do pleonasmo da expressão. Ao mesmo tempo que se vê um Almodóvar clássico, sente-se a sua ausência, tamanho o risco que ele corre. Me incomou o fato da personagem Judit revelar que Mateo é pai de Diego antes do momento da revelação, no café da manhã em sua casa. Ela refere-se a Mateo como pai dele dentro do carro, voltando da comemoração de seu aniversário. Não sei se foi apenas impressão, mas acho que não.

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  4. Fiquei curioso para ver esse filme de Almodovar, sou um grande admirador do trabalho dele e de seus personagens complexos.

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