CHUVA


 Na fria e chuvosa Buenos Aires, vemos uma cena comum nas grandes metrópoles: um generoso engarrafamento. Alma está em seu carro, esperando, sozinha e angustiada. Roberto entra desesperadamente no carro, sangrando. A diretora Paula Hernández utiliza a chuva para unir os dois personagens que se não estivessem tão próximos e unidos por uma cobertura, buscando proteção do frio e da chuva, não teriam chances para se conhecer e utilizar a falta de intimidade para se expor, sem utilizar proteções emocionais causados pelo conhecido, pela previsibilidade de um julgamento e um convívio mais calculista.

Se expor para um desconhecido talvez seja conveniente numa situação como essa. A decepção não é a primeira coisa que vem em mente. Os dois podem assim, se ajudar, mutuamente, apesar da insegurança comum que também criado pelo desconhecido. O “desconhecido” aqui ganha status enigmáticos criados por lombadas que por um lado mudam o rumo do longa, mas pontuam um sentimento unânime da população das grandes metrópoles: a solidão e o interesse na vida alheia. 

Aos poucos deixamos as primeiras impressões causadas por uma apresentação morna dos personagens, para afundar no emocional de Alma e Roberto que infelizmente são embarreirados pela diretora Paula Hernández novamente. Ela nos impede de situar a posição de cada um referente ao problema do outro, expondo apenas o fervor do momento para liberar informações em um momento que ela achou ser oportuno. Separando Alma e Roberto em mundos distintos por conta do exarcebado uso de "plano e contra-plano", a diretora cria um cansativo ping pong em sua montagem.

Apesar desta forma quadrada para desenvolver o longa, Paula Hernández tem a sutileza na hora de construir o lado psicológico de sua ação, aos poucos convencendo a nós que esta aproximação veio de uma escolha da natureza, como uma chance de recomeço para cada um, mesmo que essa história vire uma grande dicotomia quando a pós-produção os coloca em dois mundos particulares.
Chuva (Lluvia, Argentina, 2008) de Paula Hernández

Um comentário:

  1. Embora seja pouco provável que alguém entre em seu carro assim no meio de um trânsito, gosto de filme que tratam sobre a temática do introspectivo, dos dilemas pessoais e psicológicos.

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