O ARTISTA

A primeira referência dentro do mosaico que constitui O Artista é Metrópolis (1927) de Fritz Lang, ainda nos primeiros segundos de filme. Na sequência seguinte, George Valentin (Jean Dujardin) recebe aplausos calorosos do público, passivo à metodologia criada por D.W. Griffith. No mesmo espaço de ação, está o humor físico disseminado por Charles Chaplin. Tudo isso na tradicional janela “1.33:1”, característica principal dos primórdios do cinema.

O filme dirigido por Michel Hazanavicius - diretor mais conhecido por paródias de filmes de espionagem - pode esboçar homenagens à invenção dos irmãos Lumière, porém não resguarda bases narrativas para criar senso de unidade e identidade. O conflito do protagonista vem da manipulação do que até então era considerado puro, intocável: o cinema mundo está ameaçado pela chegada de microfones aos estúdios e pela técnica de dublagem. Na metáfora imagética onde Peppy Miller (Bérénice Bejo) e George Valentin se encontram nas escadarias de um estúdio cinematográfico, o diretor os coloca em frente à previsibilidade mais deliciosa de se acompanhar – a história do cinema e a crise de um artista impregnada à narrativa clássica, como Nasce Uma Estrela, de George Cukor.
Porém, Hazanavicius logo se esquece do raciocínio para criar uma relação dicotômica com a ternura que cerca a nostalgia de O Artista; O filme vira uma viagem ao passado sem definições e alegorias necessárias para justificar a leitura aos moldes do cinema em Hollywoodland.

O que busca Hazanavicius ao enaltecer o romance entre Valentin e Miller e os gracejos de um cachorro adestrado ao conflito existencial que cerca a questão da pureza em qualquer artista? Um respeitável público que aplaude conforme seus pedidos como seu protagonista faz no início do filme? O Artista, assim, tenta pegar o público pelo apelo do resgate sem adular o mercado e sim sua metodologia; A composição de um tempo mágico que está completamente à margem da história de seus personagens.


O Artista (The Artist, França/Bélgica/EUA, 2011) de Michel Hazanavicius

3 comentários:

  1. Pedro, uma pena que "O Artista" não tenha representado para você uma experiência muito positiva. Achei o filme fantástico, emocionante mesmo. É o meu favorito na corrida do Oscar 2012.

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  2. stou louca pra assistir esse filme, mesmo com a crítica... to com expectativas altas!

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  3. Mesclando bem a trama entre o fictício e o real naquele período e ainda interligando-o com o início do cinema falado, ele alcança um trabalho muito bem feito e de modo preciso, sabendo exatamente o que o espectador chega a esperar em cada ato do filme. Pra mim é um espetáculo.

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