FESTIVAL DO RIO - PARTE 3

Aqui, a terceira parte:
PRIMEIRO DIA DE UM ANO QUALQUER (Idem, Brasil, 2012) de Domingos Oliveira

Na utopia criada pelo início do ano, a esperança de uma vida melhor logo torna-se conflito restrito à metodologia de Oliveira - concomitância digerida pelo tempo com momentos de humor aqui e ali -, Primeiro Dia de Um Ano Qualquer serve como epítome do raciocínio do diretor: inspira ritmo e humor e aos poucos torna-se gratuito, perdido. Mais uma vez remetente aos filmes de Woody Allen - desta vez os filmes no qual Allen se inspirava em Ingmar Bergman como Interiores e Setembro -, Primeiro Dia faz novo panorama sobre os assuntos outrora pautados. Renovação para o Sr. Oliveira. Já!
APENAS O VENTO (Csak A Szél, Hungria, 2011) de Benedek Fliegaulf

Vencedor do prêmio do júri no último Festival de Berlim, Apenas o Vento mergulha na decadência de um território oprimido pelo terror e intolerância. Fliegaulf consome a dor de seus personagens através da rotina silenciosa, onde todos procuram alívio e recomeço em formato enigmático. O porém do longa de  Fliegaulf está na idéia de ciclo, de perfeição, de justificativa. Algo que ameniza a força lírica e amplifica o engajamento político. O panorama atual justifica a escolha do diretor.
OUT IN THE DARK (Alata, Israel/EUA, 2012) de Michael Mayer

A história de amor entre um palestino e um israelense ganha, aos poucos, o traço político necessário para manter viva a idéia de melodrama ante o panfletarismo. A intolerância política/religiosa serve como eixo para o diretor Michael Mayer que dosa em blocos sub-temas para fazer Out in the Dark uma obra norteada. E é justamente este o êxito do longa. Manter-se sóbrio perante diversos tópicos e não perder a rédea narrativa ou cair em exageros.
FUCKING DIFFERENT XXX (Idem, EUA, 20121) de Maria Beatty, Todd Verow, Jurgen Bruning, Courtney Trouble, Manuela Kay, Émilie Jouvet, Kristian Petersen, Bruce LaBruce

Versão pornô do projeto conceitual Fucking  Different.  A proposta é que diretores gays filmem cenas de sexo entre lésbicas e vice-versa. Pois nem como exercício ou ideal este filme serve. O que salva é a tentativa de remeter aos anos 90 - uns de forma implícita como a trilha e a estética, outros exageram e usam referências da época como o grupo New Kids On The Block, por exemplo. Outro ponto a ser lembrado é a criatividade de pouquíssimos curtas como o de Todd Verow, onde meninas utilizam bolas tênis como fonte de prazer e de  Bruce LaBruce, que insere conceito teatral na rápida narrativa que antecede a relação.
VERÃO EM RED HOOK (Red Hook  Summer, EUA, 2012) de Spike Lee

Na sequência de abertura de Verão em Red Hook, Spike Lee surge na tela como Mookie, figura máxima de seu clássico de 1989  Faça a Coisa Certa. Curiosamente, este é o mantra do longa que é embalado por hinos protestantes e capta a aura das férias do garoto Flik na casa de seu avô, um pastor destinado a mudar a rotina da vizinhança através da palavra de Deus. Como a sequência entrega, o filme serve como autoreferência megalomaníaca - é possível identificar diversas tiradas e citações de outras obras de Lee, além do famoso engajamento em relação à posição do negro nos EUA e a rotina do Brooklyn. Com narrativa ritmada e atuação inspirada de Clarke Peters, Red Hook transcede a gratuita proposta de afirmação do diretor e firma-se como bom caleidoscópio da atualidade.
PIETA (Idem, Coréia do Sul, 2012) de Kim Ki-Duk

Nome dado à representação de Maria segurando o corpo de Cristo, Pieta mostra a busca de Kim-Ki Duk por reinvenção em sua carreira após Arirang - filme apresentado em  Cannes sob um mar de lágrimas. Aqui, Duk aposta em sequências com câmera na mão, decupagem comum e a construção ordinária de um thriller para fugir de vez da imagem de diretor de filmes contemplativos e poéticos. Ironicamente, Pieta - vencedor do Festival de Veneza deste ano - funciona apenas em seu último ato, quando Duk sucumbe às forças e prefere o poético e implícito ao invés do óbvio. Nele, vemos amor, vida e dor em cheque em cenas que equivalem brutalidade e beleza.
COISA DE CRIANÇA (Kid-Thing, EUA, 2012) de David Zellner

No interior do Texas, Annie passa seus dias com uma tarefa: matar o tédio. Solitária e sem opções, Annie é a epítome do método usado por David Zellner - um filme aberto, onde o "nada" é tudo e logo sufoca quem busca por respostas claras - personagens e o público, é claro. Atirar em animais mortos, roubar lojas de departamentos e vagar pela cidade em sua bicicleta são opções. Até achar  Esther, dentro de um buraco. Um honesto manifesto sobre a falta de oportunidades para aqueles que estão longe do cerne. Para Annie, viver à margem é algo literal.
TABU (Idem, Portugal/Alemanha/Brasil/França, 2012) de Miguel  Gomes

Vencedor do prêmio da crítica no Festival de Berlim, Tabu é dividido em dois segmentos onde Miguel Gomes mostra astúcia para construir simbolismos e com muito humor, analisar a identidade portuguesa através dos tempos - sempre lembrando que o cinema é terreno para todas as possibilidades. Usando uma senhora falída e abandonada pela filha como parâmetro, vemos a narradora virar protagonista e se tornar matéria-prima. Termo, o filme não busca o senso de unidade por utilizar métodos distintos de construção de personagens e narrativa. Impressionante tour-de-force.

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