O SOM AO REDOR


É possível construir, analisar e amarrar dois ou até três filmes diferentes em O Som ao Redor. Kleber Mendonça Filho usa uma rua da zona sul de Pernambuco para, ao mesmo tempo, fazer um bem humorado como retrato do cotidiano caótico da classe alta de Recife e traçar um thriller sensorial, sinalizado pelo elemento que batiza o filme.

Ao contrário do que se possa imaginar, O Som ao Redor é um filme palpável. Seus enigmas são mutantes, podem se mover e falar em uma cena e na sequência seguinte podem se transformar num cão que ladra sem parar, na obra que também sinaliza o crescimento desenfreado do mercado imobiliário da região ou num vizinho barulhento. E o campo que Mendonça passeia com liberdade, adulterando gêneros e códigos do cinema, acaba por dar ao público algo que o cinema de Alfred Hitchcock nos presenteava – a sensação de plenitude no momento certo, a ilusão de continuidade e de jogo com o público.

Mendonça filma o horror às claras. Afinal, durante o dia ele passeia sem pudor, incomoda ao próximo, não tem educação e está livre para fazer o que deseja. O diretor grita com sua câmera em aproximações bruscas ou pelo desenho de cena, onde personagens são abandonados para a continuidade narrativa, como simples metáfora de uma força maior observando o que deseja – seja o público ou uma divindade.

O Som ao Redor impressiona não só pela força que possui através de simbolismos e comparações diretas ao cotidiano pernambucano; o longa é fiel à rotina antes de usá-la como eixo narrativo – e justamente daí surge o humor. Pela associação. E nesta associação do (ir)real que o filme dá a rasteira no público, domado por um artifício básico do cinema no último século – o suspense.

 
O Som ao Redor (Idem, Brasil, 2012) de Kleber Mendonça Filho

3 comentários:

  1. quero ver o quanto o antes. parece-me que estamos diante de cinema nacional de qualidade.

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  2. Foi uma honra muito grande, para mim, ter participado do elenco dessa obra-prima de Kleber Mendonça Filho.

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  3. Esse filme é demais! Vi no Festival Internacional de Munique em 2012. Achei sensacional!!!

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