A melhor coisa do mundo é viver. Laís Bodanzky já havia afirmado tal sentença com a terceira idade em Chega de Saudade e agora celebra o fato de passar pelas lombadas colocadas pela vida em As Melhores Coisas do Mundo, filme baseado na série de livros “Mano” de Gilberto Dimmenstein e Heloísa Prieto. Laís registra o cotidiano dos jovens do nosso tempo. Sim, o jovem precoce, auto proclamado independente, que já vive a cultura autodestrutiva e egoísta tão latente no novo século. Esses jovens nasceram e foram criados em um mundo que não exige tanto esforço para se conseguir o que se deseja.
Em certo ponto do longa fica impossível não associar a obra de Bodanzky aos filmes de John Hughes (principalmente Clube dos Cinco), que ao mesmo tempo que usava sua trama à um viés despretensioso, estudava uma geração. A relação dos jovens ao sexo, entorpecentes, imaturidade, novas formas de relacionamento, meios de comunicação e problemas familiares é vista por Laís de uma maneira que foge completamente de um modelo formulado por emissoras de TV, que geralmente utilizam os jovens como meros coadjuvantes ou simplesmente abusam do mau gosto para construir uma realidade distorcida. A idéia da diretora carrega resquícios de uma maneira mais “analógica” de se ver a vida, pois seus personagens prezam pelo contato ao vivo, que aos poucos e naturalmente brinda o espectador mais velho com uma sensação nostálgica.
Mano (interpretado pelo estreante Francisco Miguez, ótimo), irmão mais novo, mais introspectivo e que não parece ter medo de viver à moda antiga, passa justamente o inverso de seus colegas; Seu conflito principal é justamente o de ser jovem. Mano não é apresentado como um menino que não faz parte de um grupinho do colégio. Ele faz parte sim da vida social dos estudantes, dos grêmios e das baladas, mas que sente a reverberação dos problemas familiares à flor da pele. Pedro (Fiuk), irmão mais velho, é mais recluso e tem saídas mais radicais para cada contratempo que possa afetá-lo. Eles estudam no mesmo colégio, mas a idade os coloca em realidades distintas que só se juntam por um grande problema. Aos poucos inseguranças e medos são apresentados ao mesmo tempo em que outros personagens deixam de ser coadjuvantes para tomar importância enorme para a trama, principalmente quando estão longe das lentes da diretora. Sendo uma analogia da imperceptível importância que situações e pessoas tomam depois para nossa formação adulta ou não, Laís induz a identificação para aqueles que já passaram pela adolescência.
A busca de Mano é de expurgar suas frustrações de alguma forma. Consequentemente e inconscientemente ele ajudará a todos ao seu redor a fazer o mesmo. Essa busca é da maneira mais adolescente possível – frenética e inquietante. Para ele fica a incógnita como se portar, talvez esse o maior conflito de um jovem garoto, pois sua imaturidade o impede de ser um homem. Como a história se desenvolve e se soluciona é de fácil previsibilidade, mas isso só aproxima mais ainda o filme de Laís aos de Hughes: É um filme para se degustar lentamente, cada corte, cada gesto, cada diálogo e cada sorriso que brota dentro e fora da tela. O gosto final é o melhor possível: Aquele dos tempos de colégio.
★★★★
As Melhores Coisas do Mundo (Idem, Brasil, 2010) de Laís Bodanzky