A primeira noção que Foxcatcher traz é a de utilizar o famigerado sonho americano como uma referência básica para o que há de vir. Como a simples metáfora de uma ilha, mas desta vez cercada de consequências doentias. Qualquer coisa dita sobre a obsessão com o êxito e a necessidade de afirmação, sempre para o bem da nação americana já foi dita, principalmente após os ataques de 11 de setembro. Portanto, Bennett Miller parte para outro estágio de estudo e discurso, como forma de aproximar a visão de micro ao macroscópico. Trata-se da mesma visão melancólica que Werner Herzog trouxe em Stroszek (1977) e com os mesmos anseios e efeitos, mas sem a exteriorização do filme do diretor alemão.
Portanto, é necessária a posição política do espectador. Ela é solicitada e lentamente tomada pela narrativa, como uma das possíveis formas de interpretação do filme – e a mais pertinente delas. Ainda que Foxcatcher dialogue de forma precisa – com ironia e melancolia – com a forma que os Estados Unidos se vende até hoje, o pilar do filme é o encontro com o fracasso, como uma espécie de bolha, representada nas locações, sempre de teto baixo, escuras e apertadas, por mais que os locais sejam imensos à primeira vista.
O estudo de como os personagens reagem ao fracasso transparece uma nação em ruínas em volta de um império. Parte-se para o consumo desenfreado, para a pulverização das regras e da saúde, e claro, para a entrega completa da integridade. É a partir deste ponto que Miller faz um caminho tortuoso para John du Pont (Steve Carell), Mark Schultz (Chaning Tatum) e David Schultz (Mark Ruffalo), os representantes da equipe que batiza o filme, que nada mais faz que se estender em uma gangorra entre afirmação e decadência.
Os resquícios de bom senso se diluem conforme a influência que o estilo de vida oferecido por John du Pont traz – é tentador e extremamente perigoso o simples fato de desejar, principalmente para quem já tem tudo. Para os três, nunca será o suficiente, cada um à sua maneira. E conforme Miller traça o paralelo do caminho percorrido pelos três, curiosamente no mesmo lugar, muitas vezes no mesmo espaço cênico, mas nunca sob o mesmo escopo existencial, uma balança social é erguida, da mesma forma que a posição para cada personagem se concretiza. Há a noção de heroísmo e vilania para cada um deles; todos se encaixam nos padrões que a narrativa clássica solicita, porém, nota-se a intenção de personagens-camaleões, como uma metáfora da posição política americana e que se potencializa com o desenvolvimento do filme.
Neste ponto Miller coloca a questão explicitamente sobre o que é, de fato, a vitória. O que se faz com ela? O caminho até ela é questionado diversas vezes, para o bem e para o mal. A vitória é rapidamente execrada, já na primeira cena de filme. A derrota, para uma nação que se exclui do resto do mundo – conforme John du Pont – ganha um significado de amplificação do que há de ser analisado e mudado.
E no escopo sobre a dominância, sempre ela, Foxcatcher se faz um filme de analogias sobre aproximação do que se faz em terreno alheio; se invade, muda a rotina, inibe vontades de seu dono e repulsa qualquer tipo de resposta. Por mais gloriosa que a venda desta história possa fazer, está incrustrada o peso da ética e os valores, estes tão pregados pela nação vencedora. A gangorra nunca flutuará ou passará a ideia de estabilidade. E o maior dos males trará a consequência para quem o escolheu.
Foxcatcher (Bennet Miller, 2014)