FELIZ NATAL

Para muitos a celebração do Natal remete a reunião familiar, a celebração de mais um ano, entre comes e bebes e o amor familiar. Para outros, apenas uma obrigação social. Para Caio, vivido por Leonardo Medeiros, personagem principal de Feliz Natal, filme de estréia de Selton Mello na direção, é um momento delicado, de acerto de contas. 
 
Caio sai do interior, onde mantém um ferro velho e vai para a capital com intuito de passar a véspera de Natal com os familiares e o que encontra é uma família em cacos, presa apenas por fios que podemos chamar de hipocrisia. O filme é um retrato do momento de mudança de um homem, com o peso de seu passado e acusações de quem deveria estar ao seu lado, que não faz esforços para manter Caio por perto. Caio é acusado por um motivo que não é relevante ser citado, um fato que é comum atualmente, mas que serve de gancho para vermos o que o remorso e o medo podem fazer com a vida de um homem. 

A câmera viva, invade os locais, como um personagem, influência direta do diretor americano John Cassavetes, junto com momentos mais intimistas, reflexivos, economizando diálogos, em busca de uma resposta, algo que remete aos trabalhos do alemão Wim Wenders, se afastando completamente do que estamos acostumados quando o assunto é "Cinema Nacional". Mas não só de influências que Feliz Natal é feito, Selton Mello ousa com incômodos big closes em momentos cruciais e planos-sequencias muitíssimo bem elaborados em momentos não menos importantes, colocando Darlene Glória em seu devido lugar, interpretando a mãe da família, dopada e subestimada e Lúcio Mauro, como um amargurado pai, em uma das mais brilhantes cenas do filme. Por outro lado, o núcleo onde estão os amigos de Caio, vem com uma proposta completamente oposta, com uma metralhadora de palavras e um mundo frenético e com muitas luzes, mas não menos deprimente e oprimidos pelo peso que levam nas costas, mas causa uma irregularidade de ritmo na trama. Na família, as relações estão cobertas pela amargura, pelo interesse e a bem clara hipocrisia. Casais, filhos, irmãos, amigos. O fantasma do passado assombra a todos, exaltado por diálogos previsíveis, mas funcionais, denunciando a falsidade que está a uma linha da realidade daquela família. 

A fotografia escura reforça tal idéia, captado em scope, um mundo frio e escuro e sem saída e por vezes até meio exagerado na carga dramática. Selton Mello começa sua promissora carreira de diretor com o pé direito, já se diferenciando de outros diretores e filmes nacionais. 
Feliz Natal (Idem, Brasil, 2008) de Selton Mello

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Melhores Filmes de 2023

Mangosteen de Tulapop Saenjaroen Mais um longo post com os melhores filmes do ano. São os melhores filmes lançados entre 2021-23 com mais ...