Quando se trata de adaptações de livros, raramente algum filme consegue chegar perto da qualidade da obra literária, não só pela riqueza de detalhes que o livro trás, mas também pela questão da interpretação do diretor e a forma de se construir tais idéias em imagens.
Em Budapeste, Walter Carvalho - mais conhecido como diretor de fotografia de filmes como Carandiru, Central do Brasil e outros filmes bem sucedidos por aqui – mostra claros problemas para conduzir o que Chico Buarque colocou através das palavras e o exercício de metalinguagem.
Partindo do conceito que é uma história narrada em primeira pessoa, mas aparentemente conduzida por alguém que não existe, já que o personagem de José Costa, interpretado por Leonardo Medeiros é um escritor fantasma (escritor que dá a autoria de sua obra encomendada a quem o paga), o filme tenta parecer como uma viagem introspectiva da crise de um homem, sobre reconhecer e ser reconhecido.
A verdade é que o filme oscila bastante nas propostas e nesta confusão, ele por vezes parece bem artificial e moldado até demais. Existe uma proximidade maior com o cinema argentino ou europeu pela linguagem cinematográfica e narrativa, mas é uma escolha ordinária, caindo na previsibilidade diversas vezes, apesar de alguns acertos aqui ou ali.
Por mais que o projeto pareça ousado, o que falta no filme é ousadia. Em seu último ato, o filme coloca em prática a metalinguagem e parece funcionar melhor, mas não consegue tirar o peso colocado por todo o resto completamente.
Faltou ao filme uma clareza maior para guiar o espectador sobre o que é o texto e o que é a realidade do personagem. Pois, o espectador pode seguir um fio condutor e parar em algum ponto, confuso e em seu último plano, achar que se trata de uma piada. Talvez com um pouco mais de ousadia e clareza entre o texto, o filme teria funcionado de uma forma mais eficaz.
★★
Budapeste (Budapest, Brasil/Hungria/Portugal, 2009) de Walter Carvalho