Aconteceu durante o mês de outubro no Rio de Janeiro o Festival 4+1, responsável por levar às telas do Centro Cultural Banco do Brasil filmes autorais premiados que não ganharam distribuição por aqui. Portanto, nomes como Takeshi Kitano, Naomi Kawase e Kelly Reichardt tiveram filmes exibidos. Nós conferimos alguns filmes da programação:
MEEK’S CUTOFF (Idem, EUA, 2010) de Kelly Reichardt
No momento em que os Estados Unidos chegam ao ápice da intolerância, Kelly Reichardt (Wendy e Lucy) volta no tempo para analisar o desenvolvimento desta chaga social. Amedrontados pela figura de um índio, um grupo de cristãos atrás de água no deserto logo se tornam metáforas ambulantes de Reichardt. O delírio oriundo do calor, a posição pastoral de Meek e a dependência do índio para chegar ao destino desejado refletem a imparcialidade do diretor ao analisar a contemporaneidade. Mesmo derrapando em diversos clichês melodramáticos, o filme guarda sua pungência em sua narrativa silenciosa.
★★★★
MINHA FELICIDADE (Scatje Mojo, Ucrânia, 2010) de Sergei Loztnitsa
O paralelo entre o martírio – aqui transparecido para o vigor físico de Georgy (Viktor Nemets) – vivido pela Rússia e seu protagonista, vítima de abuso de autoridade e do azedume de moradores de um vilarejo marcados pela guerra sintetizam a escolha de Sergei Loznitsa em seguir um método que se distancia dos personagens para realçar a angústia de um tempo difícil. My Joy é um exercício contemplativo, duro e necessário.
★★★★
OUTRAGE (Autoreiji, Japão, 2010) de Takeshi Kitano
Quando diversas facetas da máfia japonesa resolvem lidar com negócios paralelos como tráfico de drogas e prostituição, uma sequência de mal entendidos gradualmente transformam o pacto de irmandade em violência. A direção de Kitano privilegia planos médios e edição em plano/contra-plano. Quando Otomo (o próprio Kitano), ex-integrante da Yakuza resolve fazer o trabalho sujo entre as gangues, a história é levada para uma sequência de cerca de quarenta e cinco minutos de assassinatos – que marca a volta de Kitano para o cinema de gênero. Perde o ritmo, porém engloba o lado cômico característico do diretor.
★★★
CURLING (Idem, Canadá, 2010) de Denis Côté
O esporte que batiza o filme de Denis Côté serve de parâmetro para a análise subjetiva da vitória impressa na vida de Moustache (Emmanuel Blodeau), que cria sua filha em regime fechado e que deixa o medo dominar sua vida. Medo este sem motivo aparente. Com frequentes mudanças de tom – sem perder seu foco de abordar o vazio das vidas de uma região castigada pela neve, no Canadá, a direção de Côté privilegia planos abertos e ação cadenciada, cautelosa. No lugar que nuances tomam proporções gigantescas, Curling consegue ser direto neste sentimento sem precisar de macetes narrativos.
★★★
KING OF THE DEVIL'S ISLAND (Kongen Av Bastoy, Noruega, 2010) de Marius Holst
Morno em todas suas tentativas – a reconstituição do momento mais dramático da história da Noruega que une alegorias políticas e a dicotômica lealdade de jovens encarcerados pelo julgamento direitista cristão e a transformação romanceada do gênero em explosivos conflitos moldurados pela neve – King of the Devil’s Island abafa qualquer hipótese de análise aprofundada com aspectos melodramáticos, aproximando muito aos filmes americanos que angariam público e cifras pela “beleza” da persistência, explicitada na primeira sequência do filme – o único motivo plausível para este filme levar o grande prêmio do 4+1. A direção de Marius Holst é contida, concentrada no ideal citado acima.
★★★