Não há inocência ou necessidade que habite em Cyril (o excelente e estreante Thomas Doret), garoto que coloca sua esperança na figura paterna que lentamente é desenhada de forma abstrata em O Garoto da Bicicleta por Jean-Pierre e Luc Dardenne. Se nos primeiros minutos de filme (vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes deste ano), a bicicleta é a referência que destroça silenciosamente a relação de Cyril com seu distante pai, no ato final vemos uma reação comum em casos de abandono paterno sem gerar fatalismos melancólicos.
A figura da mãe postiça Samantha (Cécile de France em ótima atuação) de nada intervém às urgências do garoto; ter alguém para ser submisso, algo tão comum nesta idade, transformaria sua infância para melhor. Neste momento a narrativa dos Dardenne ganha novo corpo. Ainda que ritmada, ela é menos pungente; se dilui com a gradual contenção da ação e da igualmente crescente esperança – ainda que dicotômica – de Cyril finalmente encontrar algo semelhante ao amor paterno. O Garoto da Bicicleta ressoa A Criança, sugestão personificada por Jérémie Renier, o pai perdido no longa que rendeu a segunda Palma D’Ouro para os diretores durante o Festival de Cannes de 2005.
A simplicidade técnica característica dos diretores continua presente e a dura análise está na paixão no qual Cyril busca – o pai ou uma representação – e suas consequentes e sistemáticas rejeições. E como os Dardenne desta vez usam na base alegórica, o protagonista dessa vez permite uma aproximação ao que é lhe é de agradável e leve; as roupas coloridas, o passeio de bicicleta num dia de verão e um possível churrasco com os amigos. Aparentemente, pois o lirismo acinzentado continua intenso e ambiguo o suficiente para duvidarmos de um futuro brilhante para o garoto.
O Garoto da Bicicleta (Le Gamin au vélo, Bélgica/França/Itália, 2011) Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne
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