Como documento, Esse Amor que Nos Consome possui matérias diversas como ponto de partida. O filme de Allan Ribeiro tem como eixo um casarão no centro do Rio, onde a companhia de dança Rubens Barbot ensaia, mas sem condições de pagar o aluguel do local. Por outro lado, está o lado lírico, focado em performances que nada mais são que o raio-x das condições que o grupo vive, assombrados pelas visitas de possíveis inquilinos e alegres pela benção de fazer o que gosta, sempre sufocados pela megalópole. Como contrapeso está o lado espiritual, com representações e expurgos em relação ao espaço urbano.
Com estes elementos, Allan Ribeiro faz um mosaico desnorteado. É necessário ocupar os espaços com a “energia” da arte, consultar os deuses para sobreviver e executar seus dons como descarrego. Mas Esse Amor que Nos Consome não se define por possuir frágeis aspectos líricos, ainda que tenha momentos de extrema beleza, onde os dançarinos “costuram” uma coleção de retalhos representando a diversidade das grandes cidades, por exemplo.
A tentativa em construir um panorama híbrido a partir da visão do casal Rubens Barbot e Gatto Larsen aos poucos tenciona ao olhar religioso. O modus operandi daquela cia. não seria o mesmo sem a intervenção do lado espiritual. A fé, ao contrário da doutrina ocidental, aqui ganha o reforço cênico como pilar de discurso. A rotina, regida pela ansiedade por um novo patrocinador e a data do espetáculo é diluída em conversas descontraídas a fim de desconstruir personagens, mas sempre dominados por rótulos.
Portanto, a questão que acompanha o filme é se este trata de um discurso defensivo ou mero registro daqueles que tentam sobreviver da arte em um país que não favorece a vida à margem do tradicional “nove às cinco”.
★★
Esse Amor que Nos Consome (Idem, Brasil, 2012) de Allan Ribeiro
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