FERRUGEM E OSSO




Cercados pelo visual paradisíaco do litoral do sul da França estão Alain (Matthias Schoenaerts) e Stéphanie (Marion Cotillard). À sua maneira, cada um trabalha para que outros possam se divertir. Estão à beira do abismo e o dinheiro parece motivo para subsistir, independente da procedência do pagamento. A partir deste olhar pessimista, Ferrugem e Osso aos poucos transparece a zona de conforto que muitos hoje buscam; estabilidade financeira e nenhum envolvimento emocional.

Alain caminha por extremos, seja em relação à família ou vida profissional. Stéphanie tem a inércia como defesa. Cercados pelo medo em realidades distintas e ao mesmo tempo tão similares, a relação entre eles mostra tal dicotomia pela sobriedade de Jacques Audiard (O Profeta) na direção. Stéphanie e Alain não formam um casal, não se abrem o bastante para construir uma amizade, porém o silêncio ou palavras gratuitas escondem o afeto entre os dois. 

Pois se Ferrugem e Osso é à primeira vista um filme sobre a dor e o objetivo de ter antes de ser, Audiard o transforma em bomba-relógio, imageticamente representada pela bela sequência onde sangue e gelo tomam as rédeas da vida de Alain. Nela é transparecida o que a narrativa se arrasta para conquistar – o flerte com gêneros e a transparência de toda contradição vivida pelos dois. 

Portanto  não estamos à frente de um filme sobre condições. Ferrugem e Osso é a constatação de um tempo obscuro para relações humanas, completamente dominadas pelo dinheiro e pela tecnologia.  Através de mensagens Stéphanie e Alain se comunicam para preencher o vazio que o estilo de vida dos dois – repito, cada um à sua maneira – impõe. O mesmo pode ser dito pelo caminho escolhido por  Audiard, constantemente em busca de argumentos para preencher o óbvio.

★★★
Ferrugem e Osso (De Rouille Et D'Os, França/Bélgica, 2012) de Jacques Audiard

2 comentários:

  1. Para mim, esse já é um dos filmes mais belos do ano. Gosto da forma como Audiard trata com sutileza essa questão de um personagem se apoiar no outro para tocar a vida, sempre dando ênfase ao companheirismo e não necessariamente ao amor. Marion Cotillard está em mais um momento inspiradíssimo e Schoenaerts também não fica atrás.

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