O aforismo dramatúrgico que abre Morro dos Prazeres, onde meninos da comunidade em questão representam uma ação policial que termina em emboscada pode sinalizar a congruência entre trabalhos anteriores de Maria Augusta Ramos como Justiça e Juízo e amplifica o que há de vir. O documento é híbrido entre o caráter observacional e implícitos jogos de cena para narrar a rotina de moradores do local, agora sob o olhar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Morro dos Prazeres exibe pilares ao invés de personagens. A câmera não busca além de breves panoramas sobre o momento da recém-chegada polícia. Sobre este assunto, Ramos disseca opiniões destoantes sem o intento de razão ou acordo entre as partes. Enquanto acompanha o (des)preparo policial para “cuidar” da comunidade sem conhecer seu modus operandi, o filme, assim como Edifício Master (Eduardo Coutinho, 2002), compõe a identidade de um lugar. Neste caso, um que oferece raros momentos de solidão, com vista para um mundo aparentemente distante – ao menos de se interpretar. Neste ponto o filme se revela como diagnóstico asfixiante incrustado em um arquétipo social.
A polícia, agora responsável pelo zelo e costumes do Morro, mostra fragilidade para lidar com festas que varam a madrugada, a intensa desconfiança justificada pelo histórico de violência e corrupção e a mecânica empatia de moradores a serviço da comunidade. E neste ponto que Maria Augusta Ramos usufrui de mecanismos que normalmente destoariam de um documentário observacional. Conversas rotineiras são acompanhadas por movimentos de câmera ou a tentativa da mesma em se ocultar e voltar para a “verdade”. Já com os moradores, as atuações vêm por outros alicerces – um jogo de futebol, a bebida, a inocência de uma criança ou o cinismo de um adolescente.
Emolduradas e colocadas sobre a paradisíaca paisagem carioca, estas bases dividem das mesmas motivações para sobreviver. E a nuvem de pessimismo os acompanha entre os becos, coroada num plano que define com lucidez tal estado. Pois se Morro dos Prazeres desde o embrião é composto por pólos, o luto, neste caso, será acompanhado por festa. Agora, com hora para acabar.
Morro dos Prazeres (Idem, Brasil, 2012) de Maria Augusta Ramos
Emolduradas e colocadas sobre a paradisíaca paisagem carioca, estas bases dividem das mesmas motivações para sobreviver. E a nuvem de pessimismo os acompanha entre os becos, coroada num plano que define com lucidez tal estado. Pois se Morro dos Prazeres desde o embrião é composto por pólos, o luto, neste caso, será acompanhado por festa. Agora, com hora para acabar.
Morro dos Prazeres (Idem, Brasil, 2012) de Maria Augusta Ramos
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