A percepção de invasão em closes
extremos que Abdellatif Kechiche compõe Azul
é a Cor Mais Quente está muito mais para a investigação de como conflitos
contornam os ensejos. Um filme dedicado às fisionomias e reações do corpo às
emoções. Afinal, entre as obrigações do dia-a-dia estão os sonhos, desejos e
dores. De elipses ocultas que escondem até mesmo a mudança de capítulo da
trama, o filme sufoca Adèle (Adèle Exarchopoulos) como se a angústia e o mundo
estivessem sobre o mesmo escopo.
Adèle atravessa a fase de descobertas
sem crises, aparentemente. Vive em comunhão com a família e parece segura com
suas escolhas e ideais. Suas baixas são extremas, viscerais com desconto direto
no corpo. A chegada de Emma (Lea Seydoux) transporta a pungência para o desejo
carnal em primeira instância e o filme, enquanto desenha o único embate
dramático real, transforma a relação que na verdade transformará as
personagens. Emma e Adèle serão pilares, referências para um tempo.
O “segundo capítulo” é regido por
utopias – o sonho de uma vida plena, com profissões e salários consolidados,
amor vivido com extrema intensidade e segurança. E o encontro com a vida adulta
transparece o acerto maior do filme. Sempre em monocórdio e muito básico como
diagnóstico de uma geração, Azul é a Cor
Mais Quente se desdobra entre planos engessados pelo rechaço radical de
qualquer lembrança que a vida adolescente possa trazer à protagonista,
provocando o desastre em que a figura da promessa perde o a utilidade, mas
busca reinvenção.
Azul é a Cor Mais Quente (La vie
d'Adèle – chapitre 1 & 2, França, 2013) de Abdellatif Kechiche
É uma pena que será muito improvável a continuação desse filme por conta das brigas que surgiram entre o diretor e Léa. Amei tudo nesse filme.
ResponderExcluirEi, Adécio. Pois é, as agressões continuam, pelo visto. Mas...continuação pra quê?
ExcluirAbraço