Wierner Dog (Idem,
2016) de Todd Solondz
Chamado de spin off de Bem-Vindo à Casa de Bonecas (1995), Wierner Dog na verdade poderia ser a continuação de qualquer filme
de Todd Solondz, pois sua lupa apontada para o subúrbio americano é a mesma. Em
1995 o estudo da sociedade americana, aquela da grama verde no quintal e de
belas fachadas, era impressionante e hilário. Em 2016, ele é frouxo,
enfraquecido e saturado ao seguir a sequência de abandonos do cachorro salsicha
que batiza o filme. Para quem não é familiarizado com a obra de Solondz, pode
valer o ingresso.
Três (San Ren Xing,
2016) de Johnnie To
A cada filme Johnie To
desafia os limites de direção cinematográfica e roteiro. Três é um filme tensionado por uma simples justificativa, sem que
precise de grandes sequências de ação para afirmar que se trata de um filme sobre
crises sob o escopo do gênero. Três
remete a “Office”, do próprio To, um filme de limites dado principalmente pelas
paredes de um estúdio. Três parece o
limite final de um espaço cênico e de ações contidas num jogo de distanciamento
e proximidade dos personagens e do gênero em si.
Jovens, Loucos e Mais
Rebeldes! (Everybody Wants Some!, 2016) de Richard Linklater
Não à toa Gabe Klinger
dirigiu um documentário sobre o encontro de James Benning com Richard
Linklater. Pois assim como Benning, Linklater também é um mestre no estudo da
passagem do tempo. Emulando Dazed and
Confused, o filme na verdade é sobre como um time de baseball usa o seu
tempo livre antes do início das aulas, assim, dando início à minuciosa análise
da masculinidade e como os pilares de um conjunto de regras são o norte da
juventude e vida acadêmica.
Certas Mulheres (Certain
Women, Kelly Reichardt, 2016)
Para examinar a
sociedade americana e em especial a contraditória posição das mulheres - aqui,
sempre no comando, mas apagadas pela rotina, Reichardt emula a sensibilidade de
Clint Eastwood. É cinema americano narrativo com vigor para retratar os limites
de relações interpessoais, vida profissional, amor e tédio. Assim como Night Moves, Reichardt se distância do
diagnóstico e se apega aos gestos como
forma de manifesto.
O Filho de Joseph
(Eugène Green, 2016)
O cinema de Eugène
Green encontra uma comédia screwball e como resultado tem um filme peculiar.
Das comparações à vida de Cristo e críticas às formalidades da burguesia
artística chegam ao imaginário bíblico revestido da fantasia e arquitetura,
dois pilares da filmografia de Eugène Green são louvados. O que é totalmente
possível já que O Filho de Joseph é
de certa forma, sobre Green e seu cinema.
Yoga Hosers (Idem, Kevin Smith, 2016)
Yoga
Hosers é mais um da leva midnight movies de Kevin Smith que começou com Red State (2011) e Tusk
(2014). Este remete a John Waters em modo comédia adolescente em terreno
fantástico. Com brechas para o informativo pop que permeia a filmografia de
Kevin Smith, o filme, no fim das contas, é uma gigantesca piada sobre a posição
americana em relação aos canadenses.
Ator Martinez (Actor
Martinez, Nathan Silver e Mike Ott, 2016)
Curioso projeto que
reúne dois dos mais promissores nomes do cinema independente americano
contemporâneo: Nathan Silver e Mike Ott. Ator Martinez lentamente borra a noção
do verdadeiro processo de filmagem e o que, afinal, é falso ou verdadeiro e se
sustenta via mise en scene. Ator Martinez é vigoroso por almejar o
ponto irregular dentro de relações humanas que se diluem em um espaço, que é de
diferentes maneiras, o ponto em comum do cinema dos dois diretores.
Gimme Danger (Idem, Jim
Jarmusch, 2016)
Os Stooges
influenciaram gerações e Iggy Pop é referência para todo tipo de arte, porém o
que resta no filme são algumas colagens de imagem-som-narrativa interessantes
entre os depoimentos dominados por Iggy Pop. O lado animalesco da banda fica
adormecido por ser protocolar, com poucas exposições. Em Gimmer Danger a palavra substitui o instinto.
Eis os Delírios do
Mundo Conectado (Lo and Behold: Reveries of the Connected World, 2016) de
Werner Herzog
Documentário protocolar
de Herzog analisando de maneira científica, social e pessoal os prós e contras
do mundo de hoje, dominado pela internet. Porém, a cada chance, Herzog quebra
toda teoria de cientistas e analistas. Dos hatemails aos avanços tecnológicos e
monges que se esquecem de rezar para tweetar,
o filme tem a estampa de Herzog graças ao seu tradicional pessimismo que cerca
boa parte de sua filmografia.
Ma ma (Idem, Julio
Medem, 2015)
Medem longe dos tempos
de Terra (1996) e Vacas (1992) e seguindo o protocolo da via
crucis no melodrama. Medem usa a personagem Magda (Penelope Cruz) como coluna
de uma história de redenção, vida e morte que permeia inclinações artísticas,
principalmente em relação às imagens, entregando a narrativa à
superficialidade. O interesse maior em Ma ma é o da resposta e vislumbre e não
o da problematização. É possível dizer que Ma Ma é cinema fantástico.
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