Curioso Guadagnino ir de um extremo ao outro quando falamos de rigor já que lançou Rivais e Queer no mesmo ano. A roupagem pop de Queer, semelhante ao idealizado por Sofia Coppola em Maria Antonieta, é repleto de referências à obra e vida de William S. Burroughs e seu alterego William Lee, vivido por Daniel Craig e assim se justifica. Ela faz oposição ao classicismo do filme que usa de elementos de cena e dos elementos técnicos para criar mais referências. É um pedaço de Yahé que voa ou o próprio William em alucinação lisérgica que vira o osso de 2001 ou a fusão que transforma amigos indo ao cinema em um casal com efeito semelhante à nuvem cortando o olho em Buñuel e até um único plano que remete a todo Naked Lunch de Cronenberg. Queer em si é uma jornada agradável para somar referências que Guadagnino faz; um exemplo é a relação de Burroughs e Kurt Cobain que no início dos anos 90 gravaram The Priest they called e aqui está impressa pela tripla – e inédita – aparição do Nirvana em uma trilha sonora. Como trama, o conto linear de desejo e obsessão que vai da paixão à lisergia é de longe mais coeso que sua outra metade entregue à saga delirante de William pela América do Sul que parece mais uma versão tola de Medo e Delírio em Las Vegas de Terry Gilliam. O epílogo, talvez uma mistura entre as duas partes e a mais livre delas é a que mais me encanta por tratar Burroughs (e Lee) como figuras transcendentais, ainda que a partida do autor seja uma grande referência neste bloco. Queer, assim, deixa de ser sobre a obra de Burroughs e sim sobre o seu autor, ou seja, Guadagnino faz o mesmo movimento que o seu homenageado e isto é ótimo.
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