Com roteiros bastante criativos Charlie Kaufman cedeu seus trabalhos (não só como roteirista, mas como produtor também) para diretores de vídeo-clipes como Spike Jonze com Quero ser John Malkovich e Adaptação) e Michel Gondry com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Natureza Quase Humana. Logicamente caiu no gosto do público e dessa vez Kaufman se aventurou em dirigir sua própria viagem, digo, roteiro. O resultado se chama Sinedóque, Nova Iorque e dou um doce pra quem adivinhar onde está passando.
É lógico que Kaufman contaria a história de um diretor de teatro que lida não só com uma doença que deixa seu corpo debilitado e o previsível fim de seu casamento, o deixando sem esposa e filha do jeito mais surreal possível. Kaufman provavelmente tenha escolhido tomar o posto de diretor pois talvez outro não conseguisse interpretar seus símbolismos e analogias da mesma forma. Mas ele faz o bem o trabalho, escolhe bem takes, comanda os atores, o trabalho fotográfico e a gigantesca produção de arte com sua equipe de forma eficáz elevando o resultado final a status de clássico, pelo lado megalomaníaco do diretor.
É um bom filme de se ver, antes de qualquer coisa. Philip Seymour Hoffman no papel do diretor Caden Cotard está incrível, como sempre. Enquanto assistia o longa, já pensava a sua indicação para o próximo Oscar. O elenco também conta com as brilhantes presenças de Samantha Morton e Jennifer Leigh.
É interessante como Kaufman continua com sua complexidade nos roteiros, mas Sinedóque é uma história linear, que por muito tempo achamos que estamos vendo um drama ordinário com bruscas passagens por um humor alá David Zucker.
O roteiro é linear até o seu fim, mas envolvido pela metalinguagem até o último fio de cabelo, quando Caden concluí que está chegando no limite e decide encenar uma peça sobre sua vida, no fim das contas. O tempo é relativo para Caden, ele pode parar e voar e o vemos colhendo reações inesperadas de quem vive em seu próprio relógio. Com uma ajuda financeira o diretor chega a fazer uma réplica de Nova Iorque para ser ensaiada por algumas décadas. A partir dai o número de analogias cresce, com o tempo não sabemos mais o que é ficção, o que é realidade, o que é sonho e o que é delíro. E o trunfo está ai, nesse labirinto de emoções criado pelo roteirista/diretor feita com muita competência, aliado as belas atuações. Emoções indiscritíveis por sinal.
Seguindo essa cartilha, ganhamos uma conclusão, que continua aliando a ficção com a realidade dada pelo roteiro em um bonito e poético fim. Kaufman estréia na direção com o pé direito e se consagra de vez como um dos mais criativos roteiristas do cinema contemporâneo.
★★★
Sinedóque, Nova Iorque (Synedoch, New York, EUA, 2008) de Charlie Kaufman