O CASAMENTO DE RACHEL


Pelo figurino de Kym, vivido por Anne Hathaway, temos certeza que ela é a ovelha negra da família. E sua volta para o Casamento de Rachel, sua irmã, causa uma incômoda sensação pela casa, intensificada pelas atuações de um elenco afiado e pelo foco de ação e reação das emoções de cada personagem.

Kym está em sua casa por poucos dias, pois terá que voltar para a clínica de reabilitação onde está internada. Mas a volta da irmã trás fantasmas do passado para a convivência familiar, o que causam momentos embaraçosos e conflitos diretos entre Kym e Rachel. A tensão é tão grande que fica impossível criar uma imagem sólida de vilã e mocinha nesta relação. Entre este conflito repleto de remorso, inveja e traumas, estão os pais, separados, mas que servem como peças importantes para o filme.

A direção de Jonathan Demme é peculiar, pois, ao mesmo tempo em que parece ser bastante inspirado pelo Dogma 95, no aspecto dos movimentos de câmera – que chegam a ser nauseantes por vezes – ausência de trilha e também por acusar uma história parecida - nas devidas proporções - com Festa de Família de Thomas Vinterberg em seus primeiros minutos, ele também não abre mão de uma infra estrutura que não opta pelo acaso. O que é desfavorável, pois ficar em cima do muro não dá razão para justificar certas escolhas estéticas.

Em situações específicas Kym tira seu manto pesado e parece ser aceita pela sua família em suas festividades. Mas não consegue fugir da sua eterna culpa e de criar momentos de intenso constrangimento que vão desdobrando assuntos pesadíssimos. O que parecia não ter fim acaba por ter uma saída brusca, mudando o filme de ritmo por completo em seu epílogo, prolongando informações sem muita utilidade para a trama e uma resolução morna, que infelizmente tira algo positivo que o filme havia carregando desde o seu início.

No mais o filme garante bons momentos de aflição durante um possível acerto de contas por um meio trágico guiado por traumas, mas que escorrega ao apostar em saídas mais sóbrias, carregado pelas boas atuações, tanto que Hathaway foi indicada ao Oscar deste ano por sua atuação.


O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, EUA 2008) de Jonathan Demme

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