ACONTECEU EM WOODSTOCK


A versatilidade de Ang Lee é inegável.  Seja nos Estados Unidos ou em Taiwan, é um diretor de ótimos filmes. E talvez sua mais marcante característica seja que em seus trabalhos, sem exceções, o diretor não subestime seu espectador. Seja traçando o paralelo da morte do “sonho americano” em Tempestade de Gelo ou se afastando da linha que marginaliza a homossexualidade em Brokeback Mountain ou afogando um super-herói em sentimentos em Hulk, Lee estima que seus espectadores criem suas próprias análises sem ganhar conclusões goela abaixo.

Em Aconteceu em Woodstock a história se repete: Lee usa artimanhas do cinemão americano apenas para trazer veracidade à trama.  A aura que cercou o evento é o mais importante para ele, fugindo de personagens que fiquem totalmente presos aos fios narrativos e muito menos romances que começam e terminam junto com o festival. Outra coisa que não deve se esperar na trama é à proporção que o festival tomou para o resto do mundo. A interessante visão de Lee registra o que foi a intensa maratona musical para uma família que vivia em um local pacato e que do dia pra noite recebem um sopro de vida e de liberdade gigantescos.

Interessante também é o lado que dá ao espectador a oportunidade de rotular o filme. Se ele é uma comédia, um drama, musical ou até mesmo um filme sem rótulos, cabe a você. Isso é bem explícito pela forma que o diretor domina a história, que por vezes pode até parecer magra e morna, mas deixa clara a intenção de fugir do que exatamente se espera de um filme sobre o festival mais lisérgico que se tem conhecimento. Essa escolha também amortece o impacto dos conflitos e afasta os personagens do espectador, conseqüentemente afastando o filme junto.

Os bastidores e a dificuldade de transformar o festival em realidade em tão pouco tempo ganham mais atenção que as atrações musicais que são lembradas apenas pelos nomes. Inevitável é falar das drogas ou da tão pregada liberdade, mas Lee é bastante econômico nesses assuntos. A anacronia narrativa totalmente subjetiva que rege Aconteceu em Woodstock rende uma espécie de gangorra de acertos erros, pois se a tendência de Lee é fazer um registro e afastar o espectador de clichês e previsibilidades, ele afasta o mesmo quando não o permite entrar de fato no filme e ser apenas um voyeur.

Aconteceu em Woodstock (Taking Woodstock, EUA, 2009) de Ang Lee

5 comentários:

  1. Não absolutamente nada a dizer, é um filme maravilhoso como um todo!

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  2. Eu acho HULK uma coisa medonha, mas DESEJO E PERIGO ainda é top 5 meu esse ano.

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  3. Não é porque esse filme é dirigido por Ang Lee, mas estou doida para ver "Aconteceu em Woodstock" porque a temática dele me interessa demais! Adoro essa época!

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  4. Esperava bem que isso deste filme... fico até com o pé atrás de assisti-lo. Cautela.

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  5. Apesar de varias criticas desfavoraveis, ainda sinto muito vontade de assistir. Gosto muito do Ang Lee.

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