Aqui, a quarta parte com críticas.
O Verão de Giácomo (L'Estate Di Giacomo, Itália/Bélgica/França, 2011) de Alessandro Comodin
"Viva os pequenos prazeres da vida". Este é o lema do filme logo jogado na tela, onde Giacomo, um garoto surdo, faz um solo imperfeito de bateria. A partir daí acompanhamos Giacomo e sua amiga Stefania em trilha numa mata que termina em um paradisíaco rio. A câmera trôpega de Alessandro Comodin não sabe se abraça seus personagens ou os desdenha. Cria diversas formas de pregar sua mensagem - guerra de lama, ofensas, brincadeiras infantis ou um passeio de bicicleta. Giacomo de inspiração vira inimigo de seu ideal. A certeza é que em poucos minutos de filme estamos diante de um exercício monótono que logo se transforma em tortura.
★
Post Tenebras Lux (Idem, México/França/Holanda, 2012) de Carlos Reygadas
A comparação imediata do cinema ao sonho é colocada em cheque por Reygadas na primeira sequência de seu filme - aqui, cinema é pesadelo. Numa sociedade refém dos vícios, da luxúria e da violência, o roteiro não teme em defender valores ditos antiquados de maneira lírica - comum na carreira do diretor - e explorar a multiplicidade da arte (elasticidade do tempo e tridimensionalidade, para citar alguns) para bater o martelo mesmo com tropeços na pretensão: o inferno é aqui. Post Tenebras Lux deu a Carlos Reygadas o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes deste ano.
★★★
Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, EUA, 2011) de Ira Sachs
A crise de um relacionamento instável por conta do vício das drogas e da constante desconfiança não faz Deixe a Luz Acesa despertar. Sempre dormente, o longa se arrasta entre idas e vindas, decepções e promessas. O diferencial - ser um drama gay - não apaga os macetes melodramáticos que o filme de Ira Sachs propõe, afinal, não se diferem em nada de um drama convencional.
★★
O Gorila (Idem, Brasil, 2012) de José Eduardo Belmonte
Esqueça o conto de Sérgio Sant'anna que batiza o filme. O roteiro escrito por Claudia Jouvin se concentra em um thriller ritmado e com boas inserções de humor e deixa de lado a análise da solidão da vida urbana ou o lado patético dO Gorila, vivido por Otávio Muller. Aqui, José Eduardo Belmonte não está intencionado a desnudar identidades ou laços folclóricos de metrópoles e sim encaixar peças num quebra-cabeças aberto ao sonho, à elasticidade temporal e ao deboche, característica do cinema de Belmonte. Um ótimo exemplo da diferença entre literatura e cinema como forma de linguagem.
★★★★
Erros do Corpo Humano (Errors of the Human Body, Alemanha/EUA, 2012) de Eron Sheean
Impressiona como Erros do Corpo Humano consegue unir clichês básicos da ficção científica ao método saturado de desenvolvimento narrativo moderno. A obra de Eron Sheean consegue desenhar seu destino com dez minutos de projeção e por todo restante faz confirmar o que há previsto, mesmo com pequenos flertes com o lúdico - único acerto do filme. Imagens definitivamente não chocam mais como antigamente.
★
O Som ao Redor (Idem, Brasil, 2012) de Kléber Mendonça Filho
Ao contrário do que possa imaginar O Som ao Redor é um filme palpável. Seus enigmas são mutantes, podem se mover e falar em uma cena e na sequência seguinte podem se transformar num cão que ladra sem parar, na obra que também sinaliza o crescimento desenfreado do mercado imobiliário da região ou num vizinho barulhento. E o campo que Kléber Mendonça passeia com liberdade, adulterando gêneros e códigos do cinema acaba por dar ao público algo que o cinema de Alfred Hitchcock nos presenteava – a sensação de plenitude no momento certo, a ilusão de continuidade e de jogo com o público.
★★★★★
Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild, EUA, 2012) de Benh Zeitlin
O lado lúdico que reflete metáforas sobre a ideia de renascimento não apaga o peso melodramático que o filme carrega. Remetente às tragédias ocorridas no oriente e principalmente em New Orleans - transparecido pelo espaço cênico -, Indomável Sonhadora exagera e mal traça informações sobre seus personagens. O que vale aqui é a superação em um tempo onde o conflito não se personaliza.
★★
A Quinta Estação (La Cinquiéme Saison, Bélgica/França, 2011) de Peter Brosens e Jessica Hope Woodworth
Remetente ao cinema de Roy Andersson, A Quinta Estação desconstrói em simbolismos um tempo onde o governo tomará o que resta da população, onde a tolerância é nula, onde a religiosidade leva todos à cegueira e violência e burocracia são os caminhos para resoluções magras e pouco animadoras. A questão deixada por Brosens e Woodworth é: estamos neste tempo? A Quinta Estação é um filme que instiga e, mesmo com seus problemas de ritmo, exige do espectador e o coloca como objeto de estudo junto aos seus personagens.
★★★★
OS Maus Não Merecem a Paz (No Habrá Paz Para Los Malvados, Espanha, 2011) de Enrique Urbizu
A tênue linha que separa o heroísmo do marginal em Os Maus Não Merecem a Paz transparece a fraqueza do sistema de segurança espanhol. Casos policiais sempre são travados pela parte burocrática e a lei que favorece a lentidão. A trama que em seus primeiros minutos tomam um rumo interessante logo desemboca na mesmice do gênero transformando o filme em uma cópia de um enlatado americano qualquer.
★★
Tempestade na Estrada (Cloudburst, EUA, 2011) de Thom Fitzgerald
Por ter duas senhoras lésbicas como protagonistas da história, Tempestade na Estrada não tem amarras com a censura mesmo com o método batido das comédias americanas - tempo para o pastelão, para contemplar e principalmente, o apelo para abraçarmos os personagens através da associação. E seu lado anárquico pesa para a leveza e ritmo do filme. Um pequeno achado.
★★★