O que Xavier Dolan e Quentin Tarantino têm em comum? Esta pergunta esquisita à primeira vista se justifica pela representação artística, cada um em seu tempo. Se pensarmos em termos de comparação, ambos desenvolvem seus filmes a partir de conceitos pré-estabelecidos pelo passado e hoje desfrutam da identificação do grande público. Tarantino, porém, eleva a qualidade de suas obras pela inventividade e liberdade para utilizar gêneros e referências como matéria-prima. Dolan está preso a valores estéticos e representações.
Laurence Anyways se passa nos anos 90, época em que Tarantino se consagrava ao reciclar convenções e junto à Miramax mudava o rumo do mercado cinematográfico abrindo porta para filmes independentes e o (re)surgimento de diretores como John Waters, Jim Jarmusch, Amos Poe e os contemporâneos Kevin Smith, Oliver Stone, Larry Clark e Gregg Araki. Enfim, voltando ao filme, o foco está num romance torto, cheio de idas e vindas justificadas pela mudança de sexo do protagonista, sustentadas pelo talento de Melvil Poupad e Nathalie Baye e poluído por artifícios vistos em seus primeiros filmes (Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários) que dataram Dolan como referência para os jovens cinéfilos.
E o diretor privilegia o que se vê e não o que se sente – termômetro pessimista de uma geração que se saturou rapidamente e logo precisará de reinvenção e novos heróis. Em Laurence Anyways é possível notar a força que videoclipes, desfiles de moda, campanhas publicitárias, enfim, a linguagem pop tivera para a formação do autor, que apesar da velocidade para narrar, embarca numa megalomaníaca viagem de 159 minutos sem necessidade. Planos, movimentos de câmera e alusões líricas pavimentam o caminho ideal para o contexto noventista se desenvolver em paralelo à narrativa que pulsa graças ao silencioso embate de Laurence com sua sexualidade, indo além dos trajes e afirmações sobre suas escolhas.
A inovação textual chegou para o diretor em seu terceiro filme, porém é preciso livrar-se das amarras conceituais ao que se refere à linguagem unilateral. Transformar qualquer coisa que apareça em algo digestível e pop é curvar-se para seu público. Assim como sua geração, Dolan necessita de desafios e (re)invenções.
★★
Laurence Anyways (Idem, Canadá/França, 2012) de Xavier Dolan
Acho o Dolan tão respeitável quanto Tarantino no sentido que você citou no início. Digirir, escrever e atuar em um filme como o Eu Matei Minha Mãe com apenas 20 anos é algo extremamente admirável, ao meu ver. Também achei o Amores Imaginários muito bonito. Ainda não vi o Laurence Anyways e desanimei um pouco depois de ler sua crítica... mas vou assistir, se tiver a mesma essência usada nos outros, acho que vou gostar!
ResponderExcluirGostei muito de AMORES IMAGINÁRIOS. Acho que Dolan tem talento.
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