Do mesmo arquétipo que sustenta Cópia Fiel, filme anterior de Abbas Kiarostami, Um Alguém Apaixonado se desenvolve pelo oposto que se espera. Tal expectativa, de espectro, se transforma em personagem e posteriormente em um monstro. Kiarostami tem o prazer do flerte. Sugere ao espectador e desenha a ausência.
A câmera que raramente acompanha a ação relevante, em certos momentos prefere se omitir à história por completo. Entre um lado e outro, opta pelo meio – como a câmera posicionada no vidro, entre o restaurante e a rua na primeira sequência do filme.
A opção de subverter regras, como os telefonemas não atendidos, casais que não se tocam e o foco em diálogos corriqueiros é parte do exercício de estilo – subverter ou instigar é consequência; cabe ao público entrar no jogo de Kiarostami, acostumado a contrariar plateias domesticadas.
Porém, falta o diálogo entre os dois extremos; o exercício logo se satura e carece de inovações ou ao menos abordagens alternativas. Mesmo pulsante, a ideia é redundante. Ser apenas antítese traz automaticamente frustração, pois não se justifica como parte de um processo criativo e sim como gratuidade.
★★★
Um Alguém Apaixonado (Like Someone in Love, França/Japão, 2012) de Abbas Kiarostami
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