Animais
Noturnos abre com a sequência de mulheres dançando em
um suposto júbilo do mundo artístico: são corpos disformes, suficientes e
funcionais para satisfação dos convidados de uma vernissage. São corpos
completamente ignorados e o protocolo social é cumprido. Essa é apenas uma das
infinitas ilustrações do filme de Tom Ford, que resume seu segundo filme à luta
contra o estigma de fashionista - pelo qual é conhecido mundialmente. E falha,
pois, Animais Noturnos leva o cinema
à função primária da representatividade da imagem.
São ilustrações
que se encaixam uma dentro da outra, onde a principal delas, a espinha dorsal
do filme, é uma trama de crime e investigação na forma contemporânea de exibir
a cultura white trash texana (vítimas
+ jovens loucos + xerife). Nas margens, espelhos em relação à trama principal,
justificados como a leitura de um livro que batiza o filme e que reflete uma
espécie de depressão social. Desse reflexo Tom Ford faz críticas ao mundo que
tanto conhece - do narcisismo, culto à imagem e futilidade, onde a morte está
como centro de todas as representatividades imagéticas - nos quadros, estátuas e pinturas.
Divididos em uma
espécie de chiaroscuro - o claro e
quente do Texas versus o frio e escuro inverno Nova Iorquino -, o filme abraça
uma gama de gêneros - do romance barato ao thriller e até mesmo o terror no
estilo found footage. Mas nada disso chega
a um objetivo no sentido de associação com a narrativa. O que se vê em Animais Noturnos são maneirismos e
manipulações da imagem (destaco a sequência com os personagens principais em um
restaurante, feita apenas com super closes, como em um comercial da Nespresso ou
qualquer coisa do tipo). E antes fosse da maneira explícita como Nicolas
Winding Refn pavimenta sua carreira para um diretor de campanhas publicitárias.
Tom Ford luta pelo oposto porém usando a mesma estrada.
O jogo da culpa
que permeia os dois extremos do filme trata de construir alicerces sobre a
falência geral - da família, da arte, do estado. Mas se na única experiência
que campo e contra-campo dialogam (duas formas, enfim) é o da abertura, sobra
ao filme o referido poder do que é exibido, somente. Pois Animais Noturnos não é um filme sobre o infinito retorno do caos (a
exemplo do recente Elle) e sim sobre
a passividade e amargura geradas pela falta de controle. Há a necessidade de se
controlar a empresa, a família, uma discussão e a vida dos outros. E este é o
ponto que converge a narrativa em uma só: Tony (Jake Gyllenhaal) e Susan (Amy
Adams) perderam o controle em situações extremas e Ford transforma toda ajuda
em fantasmas.
Na simbiose
controle-justiça, estes fantasmas - xerife e o próprio livro - o jogo de
percepções que Animais Noturnos enfim
transparece, é óbvio: o fracasso por trás de qualquer tentativa de dominar o
mundo e consequências vistas já no primeiro quadro. Para Tom Ford, estamos
fadados ao fracasso e para fugir disso, é preciso diminuir o próximo. Sempre.
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