Z - A Cidade Perdida pode ser divido em três
partes: um melodrama familiar guiado pelos alicerces do cinema clássico
americano, uma espécie de western de exploração pela selva amazônica aos moldes
de Bravura Indômita e um filme de guerra. Não bastasse para mostrar a
versatilidade de James Gray como realizador, o filme, em seus limites, garante
uma bela história sobre adaptação, (anti) heróis e paternidade.
Se comparado a outros filmes da filmografia de
Gray, Z estaria entre Os Donos da Noite e Era Uma Vez em Nova York, por mais
que um diálogo direto entre eles pareça impossível em primeira instância. É
impressionante como Gray segue uma fórmula para depois destroçá-la
impiedosamente: para os diálogos, plano e contra-plano. Sempre. Em close de
preferência. Haverá um plano geral em seguida. Essas marcações estão na
construção de um melodrama onde a ausência paterna é o norte principal da
trama. As marcações, portanto, estão em função da história ante ao conceito
estético. A narrativa naturalmente levará aos planos gerais e a entrega da
câmera aos corpos, destruindo a proposta inicial. Z então se torna um filme
observacional, no qual a exploração de um novo território é o gatilho para
outro gênero e muito pouco sobre personas - um exemplo: Percy Fawcett (Charlie
Hunnam) tem um ajudante, Henry Costin, vivido por Robert Pattinson. Pouco ou
nada há a saber sobre este homem. Interessa mais a Gray em como transformar
estes homens em colunas para a narrativa, como outrora John Wayne e Clint
Eastwood foram. São homens a serem batidos, mas frágeis, fragilizados, medrosos
e com um deserto verde a ser descoberto com inimigos à frente.
E não há muito espaço para uma conclusão sobre
êxitos e falhas nas jornadas de Fawcett e cia. pela Amazônia em busca da cidade
perdida. O ritmo não permite que a figura tome outra forma, pois logo estará em
outro filme - ou outro gênero. Gray então dirige sequências de guerra com
simplicidade ímpar; planos abertos, poucos corpos, ambiente apocalíptico. O
campo ideal para o trágico. Mas antes disso, uma preparação bastante nostálgica
e remetente aos filmes deste gênero. Rapidamente as colunas não são mais as
mesmas e tampouco o filme. Estamos no melodrama novamente e a esse ponto não
surpreende mais a proposta de James Gray.
Os heróis nunca ganham esta nomenclatura ou mesmo
pose de. São meras representações - como as que interessam a Peter Brook até
hoje - de emoções, ainda que na superfície sejam homens de gelo a serem
desbravados. E no retorno ao melodrama - e ao cinema clássico americano - Gray
entoa Era Uma Vez em Nova York de forma mais explícita: os planos, a forma como
os valores são exibidos e sua conclusão. Gray, enfim, dá espaço para um diálogo
direto entre filme e audiência, um espaço para que os personagens enfim façam
parte do que são filmados e não como espectros de cinema.
E isso é para poucos: construir um filme com
sombras e fantasmas entre lacunas postos à frente da narrativa, como se
estivessem no front a esconder um catálogo de dilemas e valores a serviço da
linguagem. E para que esta proposta se sustente, frestas estão abertas, como
eixos singelos entre estes gêneros registrados (ou homenageados) como forma de
narrar uma história verdadeira; ainda que o realismo esteja à mercê a todo
momento, interessa ao realizador o lado fantástico e como ele pode elevar, pela
magia (ainda que isso soe piegas) este paralelo que o cinema permite. E com
deste domínio, poucos hoje fazem como James Gray.
Texto originalmente publicado no Cineplayers.
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