Nos
últimos doze anos Gustave Kervern e Benoît Delépine se debruçaram em formatos
de críticas incisivas contra o modelo político francês e o comportamento social
da burguesia francesa. A dupla construiu uma filmografia de extremos e o raio
de alcance sempre a favor de uma narrativa torta, longe da falcatrua que goza
da atenção da suposta crítica domesticada (ou melhor, longe dos raros filmes
políticos que ganham as salas de cinema por aqui). Com o humor negro como norte
principal com momentos de grande felicidade nestas críticas como em A Grande Noite, AAltra e Louise-Michel, Kervern e Delépine foram
capazes de ir do filosófico ao prosaico com a mesma abordagem.
Saint Amour – Na
Rota do Vinho
talvez confirme uma mudança iniciada em Near
Death Experience, o primeiro passo na mudança de tom – em Near Death
Experience vemos uma experiência minimalista de um homem em conflito, expondo
doses severas de humor entre o arquétipo de um drama social, no fim das contas.
Já Saint Amour parece um acordo de paz entre os diretores e o país, no qual o
mapa francês – e a famosa rota do vinho - servem como maior referência
narrativa.
Obviamente
estamos diante de uma comédia de erros, desta vez inclinada ao humor físico em
diversos momentos, mas a cada parada para um gole (que viram incontáveis garrafas)
de vinho, há um alcance subjetivo traçado por Kervern e Delépine. Há a ideia de
reforço e valorização de um país como se fosse o momento exato para remover as
chagas outrora colocadas com tanta veemência. A viagem de pai, filho e
motorista (Gérard Depardieu, Benoît Poelvoorde e Vincent Lacoste,
respectivamente) pode ser dividida em duas partes, portanto; Há o lado
tradicional de Kervern e Delépine, pronto para satirizar com qualquer meandro
que apareça e que possa virar referência histórica ou política. E há o lado de
um filme mais interessado na celebração, gerando uma grande lacuna.
A
natureza de Saint Amour é o road movie,
o desenho conflituoso de seus personagens como condição básica para escada de
cada situação cômica e como contraponto, o olhar não-materialista, mas espiritual
de contemplar e reconhecer um outro país, este que nunca esteve presente na
filmografia da dupla. No encontro destes extremos há uma estranheza ainda
insondável, principalmente pelo caráter acessível que Saint Amour leva. Há no
filme cenas que seguem a fórmula da razão versus
paixão em que o sentido parece ser perdido. Afinal, a França está lá para ser
achincalhada ou amada?
Se
a intenção de Kervern e Delépine é a de usar a França desta vez como ponto de
(des) equilíbrio na dialética, Saint Amour é um filme bem sucedido. Do
contrário, o que se vê em primeira instância é o novo interesse da dupla pelo
tema preferido e um novo caminho a seguir. Que venha o próximo filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário