Formalismo Comic-Con.
Antes de tudo é preciso
explicar o título: Valerian e a Cidade dos Mil Planetas também é uma convenção
de entretenimento multigênero. É possível dizer também que Valerian e a Cidade
dos Mil Planetas é uma leitura corrida dos últimos anos de ficção científica no
“cinemão”, ainda que o projeto de Luc Besson seja muito pessoal e tenha sido
financiado de maneira independente para levar a HQ de Pierre Christin às telas.
E está longe de ser um passo adiante de Lucy, seu filme anterior, de abordagem
completamente distinta.
Ainda que tudo pareça
extremamente misturado e corrido – há um texto de David Elrich o comparando a
um delírio lisérgico - nos seus 137 minutos, há delimitações simplórias no
filme: são espaços desenhados para cada menção e diálogo com os “braços” do
mundo fantástico. A dos games, por exemplo, lá está o uso do controle de visão
e de joysticks para participar de um mundo paralelo, além de referências ao
ecrã tátil e da própria linguagem usada por Besson, que também cerca o mundo
das HQs, filmes e desenhos. Certamente um filme debruçado ao visual, cheio de
referências que vão à Los Angeles de Blade Runner passando por O Último
Guerreiro das Estrelas, Dark Star, Planeta do Tesouro e John Carter. Neste sentido, é um filme bastante inocente,
até infantil, brincando com formas e suas funções, como Besson outrora fez em O
Profissional e principalmente em O Quinto Elemento, o filme mais próximo de
Valerian.
Das HQ’s, a referência da
composição de quadros, cores e tons e dos desenhos à lisergia que o mundo
fantástico permite. O que surpreende é o tom fabuloso da narrativa, ainda que
falte muito nas definições dos personagens secundários – sempre regidos por uma
decisão: “ataque!”, “corra!”, “vamos!”, etc. Valerian e a Cidade dos Mil
Planetas não tem um vilão com o arquétipo que conhecemos nos épicos destes
gêneros. Tem seu holofote quando a trama exige. Se não é espelhada, a trama
guarda o outro lado para o questionável jogo de aproximação e distanciamento
amoroso entre Valerian (Dane De Haan) e Laureline (Cara Delevingne) enquanto a
crescente obrigação de salvar mundos intensifica – como outrora Leeloo e Korben
Dallas fizeram em O Quinto Elemento.
E deste córrego escoam
coadjuvantes, entre monstros, aliens, majores, robôs e mutantes, como Bubble,
interpretada por Rihanna a que ganha mais atenção, mas ainda assim pouco
aproveitada para o norte narrativo. Ela é uma presença atrativa e que expõe as
fragilidades de um filme sem camadas; pois Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
se resume em seu prólogo – uma brincadeira entre linguagem, mensagem e visual
-, reservando o desbunde completo para o restante de filme, resumindo-o à
procura de uma identidade própria no meio de tantas referências literárias e
audiovisuais.
Valerian e a Cidade dos Mil
Planetas é um filme morno por oscilar neste delírio. Entre o pastiche e a
estranha ousadia de ser ferrenho na transformação do humano no espaço utópico e
não nas criaturas e planetas criados, há o desconforto pulsante. Em boa parte
das sequências há uma moral e não por acaso será a mesma usada por todo o
filme: a velha mensagem de esperança, amizade e paz, caricata e que esbarra no
ridículo da maneira que Besson a compõe.
E se estamos diante de um filme
de superfícies e não de personagens, o abismo é próximo e o desarranjo com o
tempo que se conjuga é nítido. Valerian e a Cidade dos Mil Planetas na medida
em que insere informações e adereços constrói ausências no formalismo que a
priori seria rico e complexo.
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