15h17 - Trem Para Paris inicia com certa densidade, próxima aos filmes noventistas de Clint Eastwood, mas aos poucos o filme toma proporções inesperadas. Impressiona como Eastwood abandona qualquer intenção de seguir uma linha narrativa para o heroísmo em si; se transformar em um filme menor a cada sequência - a ponto de dedicar um ato somente para viagens turísticas dos soldados -, 15h17 é de um cinismo que se retroalimenta na medida que o evento principal, o ataque terrorista, chega como a cereja do bolo de um anti-filme ao que está na superfície. Ainda mais duro e incisivo nas críticas que American Sniper, pode-se resumir o filme como um mapeamento de temas que elevam este espírito americano como um lamento, um suspiro pesado, pessimista. Do bullying, ao amor à pátria, à cultura de guerra, cristianismo, filmes e músicas, Clint Eastwood prefere as palavras aqui - há uma cena no qual Hitler é o ponto central dos diálogos e termina com uma derrota americana e se encerra com a palavra "esquerda". Essas pegadinhas escrotas se repetem algumas vezes. E nas cenas que o cotidiano desses homens palavras como "sucesso", "paraíso" e "indecisão" são jogadas como bombas entre a mise-en-scène crua que Eastwood intenciona, principalmente por usar os homens que estavam no evento de fato. Isso potencializa ainda mais sua mensagem, como John Ford fez em 7 Mulheres, Eastwood execra o que mostra - ainda que o heroísmo de Ford tenha um endereço certo, o de Eastwood é fantasmagórico, num interesse puro e simples de mostrar que a vilania sim tem moradias. No plural, pois até o dispositivo ganha discurso de valor, dos celulares à imagem artificial da TV, numa simples acusação aos tempos que vivemos hoje. Ainda surpreende que Eastwood seja aquele que anda por terrenos arenosos, numa corda bamba que pode levá-lo à má interpretação, mas se todos são enganados numa condecoração, o cinema também está aí para esta função.
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