
ABUTRES (Carancho, Argentina/Chile/França/Coréia do Sul, 2010) de Pablo Trapero
Abutres é um thriller que aborda fraudes no sistema de seguros de vida numa  cidade em que acidentes automobilísticos são rotineiros. Trapero rejeita  maniqueísmos e uma linguagem frenética para conduzir seu filme com  belíssimos planos-sequência e cenas brutais de violência que remetem a  Gaspar Noé e Michael Winterbottom.  Ainda  dentro de um cinema de  gênero, Trapero entrega uma obra intensa e inventiva. Pena que no último  segundo dá um escorregão daqueles bem feios.
★★★★
ELVIS E MADONA (Idem, Brasil, 2010) de Marcelo Laffitte
Boa parte das piadas de Elvis e Madona são de duplo sentido ou  tem pleonasmos cansativos, até novelescos. Mas  o diretor Marcelo Laffitte tem o jogo de cintura necessário para  sustentá-las com tiradas inesperadas, brincando com a  proposta do  filme, que é assumidamente proto-trash. Debocha das atuações de  seus coadjuvantes, sempre exagerados, dos inseguros protagonistas e do  cotidiano de um bairro caótico como Copacabana. O contrapeso está na  história de amor, que por mais tendenciosa que seja, acaba num lugar  comum do cinema.
★★★

RUBBER (Idem, França, 2010) de Quentin Dupieux
A sequência inicial de Rubber já justifica sua existência. O cinema é terreno de todas as  possiblidades e da ausência delas também. Quentin Dupieux faz o  espectador criar empatia por um pneu assassino para fazer alusões à  relação entre filme e espectador. Sempre que possível, debocha de quem  está do outro lado da tela, representado por um público esmaecido no  meio do deserto. Mas o alvo principal do diretor é o cinema enlatado, em  cenas que o surrealismo é gradativo na mesma equivalência que  a genialidade.
★★★★

POESIA (Shi, Coréia do Sul, 2010) de Chang-dong Lee
A  potência do roteiro (vencedor em Cannes) do filme de Chang-dong Lee é  incrustado nas ações. As palavras registram a rotina de uma senhora em  choque após o suicídio de uma menina que fora estuprada por seu neto. Na  busca da beleza no meio da sujeira da vida representada pelo alzheimer,  o  silêncio, nada imperativo, sustenta a lenta narrativa até seu  epílogo, quando o filme dá uma reviravolta surpreendente.
★★★

MICMACS - UM PLANO COMPLICADO (MicMacs à tire Larigot, França, 2010) de Jean-Pierre Jeunet
Remetente  às comédias do cinema mudo (em especial Charles Chaplin) e engajado, o  filme de Jeunet é primoroso na linguagem dinâmica e no impactante  visual. Brinca com o absurdo e com a (in)competência de nossa raça. Não  dá muito tempo para reflexões, mas faz questão de entregar suas  intenções nos momentos finais (e geniais). Para apreciar todos os  detalhes é preciso ver MicMacs muitas vezes. Farei isto com o maior prazer.
★★★★★

 
 
 
Estou no aguardo por Carancho e Micmacs. Outro que eu não consegui ver no festival foi Machete. Espero que não demorem a entrar em circuito!
ResponderExcluirMICMACS… Vi AMÉLIE a semana passada e achei apaixonante, agora todo filme de Jeunet ganha interesse. POESIA é outro ao qual gostaria de ter comparecido, se fosse possível.
ResponderExcluirpoesia e rubber me impressionaram. micmacs sai esse ano?
ResponderExcluirOlá, tenho que admitir que este blog está muito bem feito e os textos bem produzidos. Sigo o blog há pouco tempo, mas acho as críticas relevantes e os pontos bem elaborados e com conhecimento.
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