Intencionalmente implícito, Vênus Negra reconstitui os anos de sofrimento de Saartjie Baartman em Londres e Paris como parte de um freakshow comandado por seu ganancioso mestre Caezar. Rotulada de Hotentonte (uma espécie de mulher gorila), Baartman é levada à exaustão fisica e emocional pelo sonho atroz de uma vida melhor. E assim, Abdellatif Kechiche rege longuíssimas e repetitivas sequências (característica do cinema de Kechiche) ilustrando de forma crua como o sofrimento desta mulher viúva se confunde com a diversão do povo europeu e a falsa idéia científica que o racismo maquiado carrega.
Com o andar da narrativa, vemos Baartman perder suas raízes e sua identidade cultural para agradar seus “clientes”. O que fora um passatempo no início da projeção se torna um espetáculo voyeur conforme a gravidade das acusações do diretor aumenta – ao mesmo tempo em que satura a constituição do evento em tempo real, em detalhes, por mais dispensáveis que eles possam ser. Visceral por conta da atuação da estreante Yahima Torres, Vênus Negra divide sua ambiguidade com o espectador.
Se o filme nada mais é sobre o olhar, este registrado por Kechiche é denso e extremamente cansativo. Seus 166 minutos cortam todo laço de hipocrisia que a burguesia européia sustentou durante o século XIX – o lado puritano, religioso, justo e curioso; este último rende cenas de tom melancólico e imageticamente grotescas – e execram qualquer relação positiva com o mundo que Baartman viveu. Pena que ele continua o mesmo.
★★★
Vênus Negra (Vênus Noire, França/Itália/Bélgica, 2010) de Abdellatif Kechiche
estou muito curioso com esse filme desde Veneza do ano passado. Achei interessante o argumento e espero que tenha se convertido em uma boa fita.
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