Não há nada de errado em revitalizar ou adaptar gêneros; quando se trata do western, berço da instituição da identidade americana no cinema, menos ainda. Porém, o que Gore Verbinski havia sinalizado no divertido e espirituoso Rango é antítese do que O Cavaleiro Solitário se propõe.
A aventura do pequeno camaleão pelo deserto americano presta tributo a ícones do faroeste com roteiro ambivalente, pronto para agradar crianças e adultos de forma corajosa. Já O Cavaleiro Solitário mostra Verbinski em função da fórmula de Piratas do Caribe, franquia que o consagrou como realizador e responsável por recordes de bilheteria. Baseado na série Zorro – O Cavaleiro Solitário, o filme escancara referências ao western pelo imaginário popular. A idéia, portanto, é utilizar maniqueísmos do gênero para espetacularização.
Construído de maneira similar a qualquer filme da saga Piratas, O Cavaleiro Solitário mais parece uma releitura em novo ambiente. Tonto, o índio vivido por Johnny Depp é tão caricato quanto Jack Sparrow, o pirata-palhaço-marginal (ou qualquer outro personagem interpretado pelo ator nos últimos dez anos). Sua tarefa é ajudar John Reid, advogado prematuramente promovido a justiceiro a fim de vingar a morte do irmão e trazer paz à cidade de Colby, no Texas. Ao menos a vingança está lá. Sempre ela, referencial e aristocrática para o gênero.
O Cavaleiro Solitário é um filme feito de obrigações e demandas. É notória a conjura em ter conflitos, resolve-los e envernizá-los, apetecendo o gosto do grande público para iniciar e terminar atos em sequências apoteóticas. Menos, por acaso, ao seu campo original, a série no qual o filme é baseado. Vai-se a anarquia e poesia de um gênero e fica a sensação que sua releitura pop nada mais é que a clara subestimação da consciência de seus consumidores.
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O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, EUA, 2013) de Gore Verbinski
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Desacreditei neste projeto desde o ponto em que foi anunciado (creio que nem a Disney depositou a confiança necessária em sua concepção). Embora eu goste de alguns nomes envolvidos, não será um filme que verei com pressa ou expectativas. O que mais me entristece, entretanto, é ver o limite que a carreira de Johnny Depp, que já foi o meu ator favorito, atingiu. É triste vê-lo em papéis amalucados com os mesmos maneirismos de sempre. Espero que isso mude alguma hora.
ResponderExcluirLamentável, né, Alex? Na coletiva de lançamento do filme o mesmo confirmou que seu "western" predileto é "Dead Man" do Jim Jarmusch, no qual ele é o protagonista. Notei certo desdém com o filme desde o início. O pior é que ele confirmou essa semana o retorno para o novo "Alice" do Tim Burton.
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