Na sequência que encerra A Cidade é uma Só? (2011), Dildu
"enfrenta" a carreata de Dilma Rouseff e segue sua campanha
cantarolando. Trata-se de um exemplo significativo sobre o cinema feito por
Adirley Queirós, rico em dualidades na relação do homem e o espaço e o prosaico
como gesto político.
Branco Sai, Preto Fica, um filme de desejos e fantasmas, se
propõe abraçar o tempo e o cinema. Passado, presente e futuro vão de encontro
às formalidades de gênero e ultrapassam todo tipo de fronteira estipulada por
teóricos e cinéfilos. A jornada, considerando o caminho feito outrora em A
Cidade é uma Só?, nos levará a repetir a questão principal do filme anterior,
passando novamente pelos terrenos por onde Dildu caminhou ecoando seu jingle
eleitoral.
A cidade planejada é a protagonista de uma nostalgia aguda, da
época dos bailes de black music no Quarentão, local de uma mudança drástica na
vida de Marquim e Schokito. Esse desejo agudo de retorno no tempo permeia o
filme, pois o presente inibe uma relação direta dos personagens com Brasília e
entre eles também. Fazer parte do tempo, do agora, é tarefa árdua, pois este
direito lhes foi tomado. Este pensamento é justificado e elevado por Adirley
Queirós através da ficção científica, onde se imagina - um ato de extrema
melancolia que também permeia o longa - e sugere o futuro, sempre em busca de
respostas e saídas.
Destes contrapontos entre ficção e real - que nunca se darão no
realce dos cortes - surgem na mesma intensidade a solidão e a amizade. Ambas
servem de suporte para momentos de força - principalmente na amizade de Marquim
com seu toca-discos em função de sua rádio pirata e de Schokito com suas
ferramentas. É a forma que acharam para seguir em frente. O gênero, no caso,
pode ser uma barreira para colocar a câmera como dispositivo investigativo das
motivações dos personagens e o narrador como a dinamite para colocar abaixo
este muro.
Esta é uma das diversas dicotomias apresentadas pelo filme, que
se apoia na melancolia mas que é composto com bom humor, com sequências de
simbolismos referentes ao movimento (imagem, cidade, os homens e suas
limitações físicas), personagens iconoclastas e canções emblemáticas que
reforçam a noção de um abismo social. O muro implodido servirá como pano
perfeito para uma invasão e acerto de contas através da relação indireta com o
tempo e suas limitações (literais ou não) e a percepção abstrata do legado que
toda atitude será política e que elas reverberarão pelo tempo, pelos
toca-discos, pela tela e pelas ruas.
Branco Sai, Preto Fica (Idem,
Brasil, 2014) de Adirley Queirós
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