Ao acompanhar um dia dos desajustados sociais texanos em 1991,
Richard Linklater ajudou a cimentar um meandro comportamental que batizou seu
filme e que depois foi associado apenas ao movimento de boicote ao trabalho – Slacker.
O filme, que se apoiava no fluxo do tempo e na forma que os personagens
enfrentavam o andar do dia foi nomeado ao grande prêmio do Festival de Sundance
no mesmo ano. Em 1996, Suburbia era lançado. O filme acompanha através
de um curto espaço de tempo e um pequeno espaço cênico – um posto de gasolina e
seus arredores - o peso que a vida adulta traria para este grupo de “slackers”
que lentamente assemelham a ideia que tudo está prestes a mudar.
Estes dois exemplos mostram como Boyhood parte de um princípio
utilizado com certa frequência na filmografia de Richard Linklater: o tempo
como sustentação. O filme que acompanha Mason da infância ao momento em que
entra para a faculdade se resume a um jogo de elipses muito coeso, pois o maior
desafio é de manter a ideia de fluxo – o passar dos anos - entre tantos cortes.
A sensação que se dá é que Linklater resume o filme como antítese ao cinema de
James Benning (curiosamente presença constante na sala de edição de Boyhood). É
um filme de retrospecto, onde são pincelados momentos de aflição, afirmação e
claro, de amadurecimento.
Boyhood, assim como Suburbia ou Slacker, não se
inclina a qualquer tipo de drama. Os conflitos são presentes, mas o fluxo
continuará como norte principal da narrativa. Como abrir um álbum de
fotografias, lembrar-se de uma determinada época por alguns minutos e seguir em
frente. Logo estaremos em outro local, com outras motivações, outros amigos e
outra noção de vida.
O que há de mais interessante em Boyhood é como Linklater nos dá
o papel de nostálgicos e deixa seu protagonista como vivente. Mason passa pela
vida sem olhar pra trás, como se estivesse sempre em busca do melhor. O
espectador, passivo, ficará com os rastros, com a sensação de que o melhor está
acontecendo e escapando das mãos a cada quadro, pois não há espaço para
proveito. Esta maneira de esculpir uma parte da vida sugere este olhar para
trás.
E por esta percepção, Boyhood vai lentamente de encontro ao que
era seu oposto. A noção de explorar o momento e o tempo oferecido, suas formas
e possibilidades. Se Boyhood é um resumo de fragmentos repletos de sentimentos
e diferentes formas de compreensão da vida ao longo de doze anos de filmagem,
ele exprime sua concepção de forma que é possível interagir com o básico, sem
que nenhuma imersão domine o filme. E assim fica ainda mais interessante pensar
na presença de Benning na sala de edição e como o diretor norte-americano - com
quem Linklater protagonizou o belíssimo documentário Double Play
dirigido por Gabe Klinger - faria Boyhood: provavelmente em um único plano que
entoasse a infância e a juventude.
Boyhood (Idem, EUA, 2014) de
Richard Linklater
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