DUPLA EXPLOSIVA (Patrick Hughes, 2017)

Durante o transcorrer do filme – em seu discurso, seu curso descontínuo, isto é – quero incluir tudo, esportes, política, até as compras do mercado. – Jean-Luc Godard, 1972.


Nada como a força da tradição. Dupla Explosiva confirma o momento de domesticação e dominação de um arquétipo nos filmes de ação em constante crescente nos últimos anos – o jogo do alívio cômico entre as espetaculosas sequências de ação. Na circularidade narrativa este modelo parece grande alegoria como condição básica ante a tradição artística. A repetição neste caso é pura diluição na tentativa de acertar o alvo que alguns conseguiram. É o caso de estar mais próximo de A Espiã que Sabia de Menos e As Bem Armadas que os recentes Adrenalina ou Sem Dor, Sem Ganho, por exemplo. 

Patrick Hughes, responsável pelo terceiro – e o mais fraco da trilogia – Os Mercenários, realiza o que George Orwell chamava de “grasnado de pato” em 1984, quando uma pessoa fala sem pensar, anulando a jornada de seus protagonistas e troca por um simples argumento que sem sustentação, servirá apenas como gangorra para este jogo de gêneros que Dupla Explosiva se resume. E se o eixo desta gangorra funciona é graças ao tour de force de Samuel L. Jackson (não muito distante do que Tarantino consegue extrair de suas atuações) e Ryan Reynolds como uma dupla antagônica com interesses semelhantes. 

Sem a tutela do rigor, Hughes manobra sequências de ação que traem seus objetos-personagens; são tentativas de inserir todo o filme nelas, cada uma a sua maneira particular e pouco interessantes visualmente. Desta forma, cabe a Hughes reescrever o mesmo argumento de outras formas como justificativa para o espaço criado para a comicidade – como encaixe de peças mesmo. O caminho que à priori parece o ideal para a reinvenção nada mais é que a dilatação do simples gesto de espera – que componentes da mise-en-scène se relacionem ao norte de Hughes.

Norte este que é a ilusão da multiplicação de métodos, um compêndio submerso na montagem – cada vez mais distantes de questões morais e mais interessados numa suposta fruição de anedota pronta para ser interrompida por um tiroteio ou alguma explosão. Em suma, um constante exercício de construção e destruição do próprio filme. O que, de certa forma, é algo minimamente interessante. 

E se Dupla Explosiva não é sobre controle – como boa parte dos filmes de Johnnie To e John Woo ou os mais recentes filmes de John Wick – e ainda menos sobre conflitos, sobra o imediatismo e seus números cinemáticos, alguns com sucesso e a noção de espetáculo.  Um espetáculo sem expressão, com máscaras que pouco são reveladas. Hughes não escapará ao ar farsesco até o desfecho de sua trama, onde se tenta mostrar de tudo –até as compras do mercado.

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