Durante o transcorrer do
filme – em seu discurso, seu curso descontínuo, isto é – quero incluir tudo,
esportes, política, até as compras do mercado. – Jean-Luc Godard, 1972.
Nada
como a força da tradição. Dupla
Explosiva confirma o momento de domesticação e dominação de um arquétipo nos
filmes de ação em constante crescente nos últimos anos – o jogo do alívio
cômico entre as espetaculosas sequências de ação. Na circularidade narrativa
este modelo parece grande alegoria como condição básica ante a tradição
artística. A repetição neste caso é pura diluição na tentativa de acertar o
alvo que alguns conseguiram. É o caso de estar mais próximo de A Espiã que Sabia de Menos e As Bem Armadas que os recentes Adrenalina ou Sem Dor, Sem Ganho, por exemplo.
Patrick
Hughes, responsável pelo terceiro – e o mais fraco da trilogia – Os Mercenários, realiza o que George
Orwell chamava de “grasnado de pato” em 1984,
quando uma pessoa fala sem pensar, anulando a jornada de seus protagonistas e
troca por um simples argumento que sem sustentação, servirá apenas como
gangorra para este jogo de gêneros que Dupla
Explosiva se resume. E se o eixo desta gangorra funciona é graças ao tour de force de Samuel L. Jackson (não
muito distante do que Tarantino consegue extrair de suas atuações) e Ryan
Reynolds como uma dupla antagônica com interesses semelhantes.
Sem
a tutela do rigor, Hughes manobra sequências de ação que traem seus
objetos-personagens; são tentativas de inserir todo o filme nelas, cada uma a
sua maneira particular e pouco interessantes visualmente. Desta forma, cabe a
Hughes reescrever o mesmo argumento de outras formas como justificativa para o
espaço criado para a comicidade – como encaixe de peças mesmo. O caminho que à
priori parece o ideal para a reinvenção nada mais é que a dilatação do simples
gesto de espera – que componentes da mise-en-scène
se relacionem ao norte de Hughes.
Norte
este que é a ilusão da multiplicação de métodos, um compêndio submerso na
montagem – cada vez mais distantes de questões morais e mais interessados numa
suposta fruição de anedota pronta para ser interrompida por um tiroteio ou
alguma explosão. Em suma, um constante exercício de construção e destruição do
próprio filme. O que, de certa forma, é algo minimamente interessante.
E
se Dupla Explosiva não é sobre
controle – como boa parte dos filmes de Johnnie To e John Woo ou os mais
recentes filmes de John Wick – e
ainda menos sobre conflitos, sobra o imediatismo e seus números cinemáticos, alguns
com sucesso e a noção de espetáculo. Um
espetáculo sem expressão, com máscaras que pouco são reveladas. Hughes não
escapará ao ar farsesco até o desfecho de sua trama, onde se tenta mostrar de
tudo –até as compras do mercado.
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