Conhecido
pela captação da instabilidade pelo o que é estável – a câmera, o tempo, o
espaço -, Wang Bing também é acompanhado pelos efeitos de seus filmes, em boa
parte composto por horas de duração e de contemplação desafiadora.
Ironicamente, quando Bing se aproxima de seus personagens – no sentido
dramático -, seus filmes tendem a se encurtar, como é o caso de Três Irmãs (2014) e Senhora Fang, vencedor do último
Festival de Locarno.
Senhora Fang se resume à espera. Uma espera dolorosa
por parte dos parentes de Fang, que é vítima de Alzheimer. O poder de síntese
da vida da senhora Fang cabe em um único plano para Bing, tão acostumado a
planos elásticos. Deste plano em diante, o que se vê dentro da casa no qual Bing
filma é o tilintar do relógio ao encontro da esperada partida da protagonista.
Ao
redor, há vida. Esta aliança entre vida e morte se dá na transformação de Bing
em testemunha – praxe de seus filmes – do cotidiano de pescadores locais. Eles
jogam, conversam e trabalham muito próximos ao local onde a senhora Fang passa
seus últimos dias de vida. Cabe o pensamento da cartilha de injustiças da vida
e do pesar, onde os familiares, timidamente, torcem pelo fim desta espera.
Nitidamente, um esforço grande por parte de Wang Bing é o da não generalização
do sofrimento e talvez numa contradição proposital, a intensificação do ato
observacional está no extremo posto dos momentos que Fang é a protagonista.
Se
cabe apenas lamentar e esperar, o filme se faz ríspido, duro e escolhe outro
cenário para a melancolia – nem sempre funcionais. O rio, o encontro de amigos,
a vida que segue. Um paradoxo cabível ao que está por vir. E quando o
inevitável vem à tela, Bing exorta o deslocamento das emoções mais óbvias:
escolhe o homem que anda pela casa em direção ao quintal ao invés daqueles que
debruçam no precipício do sofrimento.
Esta
aposta que os efeitos são reverberados em outras camadas do filme é feliz.
Também é acertada a aposta de Bing em resumir a via crucis de Fang a 86 minutos, pois é cabível e antes de tudo,
para um realizador acostumado ao poder do olhar, saber que existem coisas que
são insuportáveis ao coração e neste caso a imposição da câmera pautaria
questões que estão muito abaixo da qualidade do cinema de Wang Bing.
Visto no Festival do Rio
2017.
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