Verão, 1993 de Carla Simón
Catálogo
de lembranças e emoções rico em nuances como forma simples de embate ao
melodrama que um filme neste formato implica. O filme de Simón opta sempre pela
dormência e pelo prolongamento dos códigos como melhor saída. Nem sempre
funciona, mas se concretiza como um filme pertinente sobre translocação e
adaptação familiar.
As Misandristas de Bruce La
Bruce
O
teenage flick de Bruce La Bruce carrega
a didática explicativa à política revolucionária, orientação sexual e
pornografia para celebrar a cultura feminista e abrangendo para à cultura LGBTQ. A impressão é de ver Gregg Araki, John
Waters e o próprio La Bruce reunidos em momentos de pouca inspiração,
principalmente para nortear o maior ensejo de La Bruce entre seus habituais
fetiches.
Adeus Entusiasmo de
Vladimir Durán
Filme
sobre espaços e relações humanas remetendo ao grupo de cineastas/críticos da Cahiers du Cinéma dos anos 50 e 60, mas
aqui os planos são fechados e a locação, um apartamento. As relações
estremecidas são potencializadas pela arte. Um filme muito bonito sobre o
processo ante a trama e sobre ensejos ante as ações.
Autocrítica de um cão
Burguês de Julian Radlmaier
Melhor
equilíbrio entre cinema, política e utopia até o momento em 2017. Um lamento em
forma de comédia de erros com doses certeiras de cinema, religião,
existencialismo e política como forma de registro histórico dos nossos dias.
Eloquente e divertido.
Verão Danado de Pedro
Cabeleira
Filme
que prolonga e recua suas ações – na maior parte do tempo Cabeleira observa
seus personagens na perdição – e pouco oferece para a fala, exceto nos minutos
iniciais, não por acaso o momento de construção de arquétipos e também o momento
mais interessante do longa. Verão Danado
está entre as cenas de consumo dos filmes de Larry Clark e os diários de viagem
de Pedro Costa, mas sem um norte definido.
Severina de Felipe Hirsch
Permeado
por utopias, Severina evoca os
clássicos do film-noir unido aos
moldes do cinema contemporâneo e analisa a partir dessa convergência o amor,
arte e vida como caminhos filosóficos e o cinema como estrada definitiva.
Thirst Street de Nathan Silver
A
via crucis à francesa de Nathan
Silver desta vez é mais diluída que em seus filmes anteriores, com preocupação
maior com aspectos visuais, sem tanta densidade dramática. Ainda envolvente, Thirst Street é o filme de menor
potência de Silver.
Doentes de Amor de Michael Showalter
À priori um filme sobre desconfortos – ser
muçulmano na América, não ser um “profissional” de sua área e não seguir regras
religiosas -, que notoriamente usa o amor como o fio narrativo e no embate
entre desconforto e amor, a maior catapulta para o riso (a estranheza) é
adormecida pelo drama que domina o miolo da história e justifica o romance do
filme.
Casa Roshell de Camila
Donoso
Trabalho
de observação semidocumental que investiga pela palavra as inquietudes e
motivações de transformistas e transexuais no clube que batiza o filme e prega
a liberdade. Há no trabalho de mise en
scène de Donoso uma proximidade ao estudo de psique que Almodóvar se
interessa, aqui ainda mais direto e igualmente formal.
Atrás Há Relâmpagos de
Julio Cordón
Analogias
da relação Costa Rica/Nicarágua no cotidiano de jovens que estão entre o
completo desleixo e a tensão total. O trabalho de Cordón é feito no resumo destes
sentimentos em rotina – justificando-o – e narrativa, sem muita inspiração nos
paralelos.
Discreet de Travis Matthews
Drama
independente que toma forma de thriller psicológico com boas ideias imagéticas
e criativos diálogos com o vídeo (um videothriller?) e formas da cidade para
transparecer traumas da sociedade norte americana, principalmente a sulista,
oprimida por reacionários.
Prevenge de Alice Lowe
Lowe
parte da gangorra emocional gestacional para transformar este período em um mar
de perversão num simples filme de vingança. É interessante como Lowe insere os
conflitos de sua protagonista e como um filme de serial killer toma corpo
conforme o nascimento do bebê se aproxima.
Um Segredo em Paris de
Elise Girard
Girard
mirou no Chabrol e acertou num pastiche de Woody Allen sem inspiração sobre
amor e máfia permeada pela força da solidão. Agridoce, o filme é guiado em
monocórdio e sem grandes momentos imagéticos ou líricos.
Lake Bodom de Taneli
Mustonen
Grande
brincadeira de subverter cânones do gênero – ou melhor, de “filmes de terror
sobre jovens acampando”. Lake Bodom vai trocando peça a peça com o mesmo
objetivo de suas referências (a brutalidade e o voyeurismo), mas sempre por
caminhos alternativos.
Detroit em Rebelião de
Kathryn Bigelow
Três
filmes em um: a observação do caos, a tensão racial e um filme de tribunal.
Para eles, Bigelow usa a mesma linguagem que é a sufocante câmera na mão,
closes e a grosso modo o estudo de índoles durante o caos instalado em Detroit
nos anos 60. Bigelow parece mais interessada na moral, na força do contexto à
força do filme e o dirige no piloto automático.
O Futuro Adiante de
Costanza Novick
Surpreende
o nome de Lisandro Alonso como produtor executivo de um filme tão didático na
função de estudo do tempo – infância, o fim da juventude e o sacramentar da
vida adulta pelo prisma de duas amigas de relação sempre estremecida. A ideia de ciclo por Costanza Novick é
carregada de saídas rasteiras e previsíveis, ainda que narrativamente seja um
filme muito dinâmico.
Conversa Fiada de Huang
Hui-Chen
Conversa Fiada se apresenta como um rolo compressor de
memórias e remorsos, mas a diretora Huang Hui-Chen exime sua mãe – protagonista
do filme – de um encontro frontal em troca de um filme figurativo, mais
interessado nas alusões poéticas da dor. Quando resolve confrontar esta opção,
extrai um resultado brutal sobre o passado de sua família.
Queercore: How to Punk a Revolution de Yony Leyser
Punks
e gays unidos com um único propósito: lutar pela igualdade e contra protocolos
sociais. Ironicamente Yony Leyser faz um filme de protocolo com talking heads e imagens de arquivo.
Independente da escolha é um filme muito inspirador com depoimentos de colunas
do movimento queercore como Bruce La
Bruce, John Waters e Kathleen Hannah.
Frost de Sharunas Bartas
Sharunas
Bartas parte de convenções básicas de sua filmografia para fazer um filme de
desgastes; forma (planos e contra-planos médios infinitos), tema e subtema sem
diálogo frontal e a ausência do conflito entre guerra e crise que o filme se
inclina. Um filme muito distanciado dos significados que busca.
O Céu de Tóquio à noite é
Sempre do Mais Denso Tom de Azul
de Yuya Ishii
Subversão
de comédias românticas com alegorias pessimistas e personagens totalmente
perdidos. A impressão é que Yuya Ishii está igualmente perdida para dosar o
gênero que subverte à trama e não transformar seu longa em um amontado de
sequências híbridas como espinha dorsal.
Lobisomem de Ashley
Mackenzie
Contravenções
imagéticas e líricas para ilustrar o mundo perdido de um casal de viciados em busca da redenção e/ou do
completo prazer. Cartografia de sentimentos opostos em linguagem notoriamente
contrária às convenções clássicas. Um filme “feio” para um tema “feio”.
Livrai-Me de Federica Di
Giacomo
O
acerto do filme de Federica Di Giacomo é a observação e a naturalidade com que
as questões são abordadas sobre exorcismo - a questão psicológica, da vaidade,
da entrega e da religião sobre o ritual. Por vezes parece redundante na
captação da rotina de uma igreja, mas ainda é um registro bastante pertinente,
sempre longe de julgamentos.
Depois da Guerra de
Annarita Zambrano
Há
pavimentos suficientes para Annarita Zambrano criar uma trama minimamente
regular sobre o tema abordado. Mas o filme é tão protocolar, segue a cartilha
do “drama de guerra” tão a fio que o resultado é de uma ingenuidade tremenda,
sempre inclinado a achar fiapos de drama onde uma abordagem política seria mais
pertinente.
Sexy Durga de Sanalkumar
Sasidharan
Um
filme que circunda a situação e permite que a situação circule a câmera. Neste
curioso exercício de imagem, Sasidharan vai do drama social ao filme de horror
sem grandes obstáculos, sempre tensionando ao máximo sua fina linha narrativa –
um casal preso dentro de uma van cheia de homens suspeitos.
Occidental de Neil Beloufa
Um
olhar do micro sobre o macro, pequenos braços para abraçar o mundo através de
um único tema: xenofobia. Das referências estéticas (Godard, Fassbinder) ao
completo pastelão francês, Beloufa está interessado em muitos tópicos sem
colocar espaço entre eles. O resultado é um filme de boas intenções mas muito
perdido na execução.
Cadáveres Bronzeados de
Helène Cattet e Bruno Forzani
O
filme outdoor de Cattet e Forzani. Um western lisérgico que concentra estilo e
novamente falta consistência narrativa como em seus filmes anteriores. Mais
interessado nos efeitos que os jogos imagéticos criam através da edição
frenética, o filme não se sustenta por muito tempo nesta aposta e sobra pouco
do experimento que a cada novo filme da dupla perde forças.
Bosque de Névoa de Mónica
Álvarez Franco
Mónica
Álvarez Franco ensaia dois caminhos para o seu filme: um de diálogo direto com
o campo filmado e de contemplação. O outro, de se infiltrar na rotina dos
moradores do bosque filmado, entre trabalho, estudo e afazeres domésticos,
sinalizando o senso de preservação e ciclo do local. Nesta investigação, Bosque de Névoa perde muito, pois nenhum
desses extremos tem força suficiente para sustentar o olhar da diretora.
Dina de Dan Sickles e
Antônio Santini
Explica-se
facilmente o prêmio recebido pelo filme em Sundance: ainda que o seu tema seja
pesado – a vida de casado de Dina, mulher de 49 diagnosticada com síndrome de asperger
e vítima de traumas fortíssimos, e Scott, diagnosticado com autismo -, a
abordagem de Dan Sickles e Antônio Santini segue um formato celebrado em
Sundance até hoje, muito próximo de filmes de Miranda July, irmãos Duplass e
afins. Talvez para fugir do peso que o tema oferece esta tenha saída, mas há de
se questionar se ela realmente funciona.
Gabriel e a Montanha de Fellipe Barbosa
Leia a crítica completa aqui.
Senhora Fang de Wang Bing
Leia a crítica completa aqui.
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