Uma
Criatura Gentil de Sergei Loznitsa
Filme
que inflexiona a ideia de burocracia e hierarquia em uma prisão como reflexo de
um país. Quando Loznitsa deixa explícitas suas intenções, o filme ganha força,
principalmente quando se apoia em alegorias. No restante é um morno exercício
de repetição de fórmulas.
Ex
Libris: Biblioteca Pública de Nova York de Frederick Wiseman
Wiseman
segue seu olhar às instituições americanas. Aqui, um estudo antropológico como
forma de observar Nova York como núcleo social, uma comunidade que necessita de
atos maiores, da cultura à política, para chegar a real democracia recheado de
momentos espetaculares em especial a celebração das senhoras e as palavras de
Patti Smith.
Golden Exits de Alex Ross
Perry
Depois
de emular Polanski em Queen of Earth, Ross Perry perde a linha neste filme que
mais parece as tentativas de Woody Allen em parecer Bergman. Entre o
interminável balé de fades, as relações interpessoais exibem adultos infantis e
jovens adultos. A balada da insegurança respinga no diretor.
How to Talk to Girls at Parties
de John Cameron Mitchell
Desregrado,
cartunesco, infantil e antes de tudo uma boa análise dos jovens – punks –
ingleses na era de Tatcher no partido conservador. O filme luta diretamente
contra convenções da ficção científica ao uni-la com uma comédia teenager numa
estranheza deliciosa.
Fuga! de
Jimmy Henderson
Henderson
mirou no Johnnie To e acertou no Dante Lam fazendo filme televisivo. A
brincadeira com o espaço fílmico termina antes mesmo de começar pois ela é
suportada por um fio narrativo de quinta categoria aliado às frágeis cenas de
ação. É o típico caso de se relevar tudo e seguir até o fim.
Motorrad
de Vicente Amorim
Compêndio
de tentativas: do uso do dispositivo, de linguagem, de narrativa e atmosfera.
Fica mais para um comercial sinistro do comercial do canal Off obcecado pela
estética sem êxito em nenhuma dessas tentativas.
O
Animal Cordial de Gabriela Amaral Almeida
Thriller
delimitado pelo espaço com alusões sociais na primeira parte, no miolo um
sinistro conto de terror e no fim um filme extremamente problemático para se resolver.
Na média, falta diálogo maior com a locação e a sustentação da atmosfera
sinistra que o filme sugere em alguns momentos.
Alguma
Coisa Assim de Esmir Filho e Mariana Bastos
A
intenção parece ser a de catalogar lembranças
como contraponto de uma tragédia existencialista – muito duvidosa, por
sinal – e é o melhor que acontece no filme, pois de resto é um drama pouco
envolvente, mais gratuito com as emoções e fiel às imagens.
Unicórnio
de Eduardo Nunes
O filme
tem signos interessantes entre a estética permeada pela linguagem de Béla Tarr
e Tarkovsky, mas muitas apostas inseridas destoam por completo do drama rural,
principalmente um tom fabuloso dispensável, pois Unicórnio tem elementos
oníricos embutidos a cada movimento de câmera.
Antipornô
de Sion Sono
Manifesto
contra o falso puritanismo japonês num vômito justificado: “é cinema!”, “é
arte!”. Um filme basicamente sobre o incômodo constante que a arte produz e sua
força de reverberação àqueles que a consomem. O completo descontrole de Sion
Sono em apenas 70 minutos.
Barbara
de Mathieu Amalric
Proto
cinebiografia. Uma espécie de Noite Americana mais indireta, interessado tanto
na quebra da quarta parede quanto na obsessão dos atores com seus personagens e
representações maiores. Um exercício interessante sobre o cinema, ainda que
Almaric não fuja da repetição.
Patti
Cake$ de Geremy Jasper
A
balada da rejeição e a busca por realização e aprovação vêm no arquétipo do
cinema independente americano, muito próximo à “esperteza” de Sundance. A
profundidade de Patti Cake$ é oferecida na troca pela estética e a opção de ser
um filme “livre” – ou seja, de ritmo, mas de pouca relevância.
Zama de
Lucrecia Martel
Filme
truncado que briga com os signos possíveis, sempre dentro de uma moldura
estipulada como forma de análise de caráter de seus personagens. É agradável
acompanhar como o filme briga com estas imposições, mas esgota o espectador
pela falta de diálogos com o que há de fora dessas paredes.
Os 8
Magníficos de Domingos Oliveira
O mais
agudo experimento feito por Domingos Oliveira também é a sua forma de revisitar
sua fase adulta, a do cinema do digital e de entrega completa de seus filmes à
dramaturgia. Um raio-x com bons momentos, outros duvidosos de oito atores em um
apartamento na zona sul carioca.
Anjos
Vestem Branco de Vivian Qu
Qu
denuncia as diferentes formas do capitalismo e do poder através de um thriller
fantasma sem um vilão visível, mas com um desfecho realista e de um profundo
lamento sobre nossa monstruosidade e nosso futuro.
Os
Meyerowitz: Família Não se Escolhe (Histórias Novas e Selecionadas) de Noah
Baumbach
Mal
decupado, editado, sem graça, uma mistura porca de Woody Allen com filmes do Adam
Sandler. Baumbach chegou ao limbo a se dedicar a fortalecer a domesticação de
um público. Tão gratuito e desleixado que chega a impressionar.
Manifesto
de Julien Rosefeldt
Pura
alusão a um manifesto sobre arte e seus impactos. Verborrágico, subestima a
força da imagem para a mesma função, formando um compêndio de performances
amorfas de Cate Blanchett sobre sociedade e arte num exercício de difícil
sustento.
Açúcar
de Renata Pinheiro e Sérgio de Oliveira
Os
primeiros minutos de filme são muito interessantes, num clima de horror
remetendo a Kiyoshi Kurosawa, mas o logo cai em simbolismos baratos e diálogos
ainda mais pobres para transparecer as intenções de “justiça” à história do
país. A média entre conteúdo e gênero é discrepante.
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