Nas
entranhas de Leste Oeste há uma
ressaca moral avassaladora. Mais uma constatação de um estado de espírito que
uma verdadeira tentativa de reverter um quadro emocional. Em Leste Oeste o luto é formalizado. É
desta convenção silenciosa que se trata o filme, de um incomodo que poucos
assumem e tornam o senso de justiça como caminho para apostas, redenções e
autodestruição.
Esta
feição morta-viva que os personagens tomam pra si como a saturação emocional está
para o contraponto de toda ação sugerida pelo filme – em destaque as corridas
de kart – é o esvaziamento total da vida. Dela, curiosamente, não se captura
melancolia e sim uma falsa ideia de esperança, que todos os personagens ali podem
achar alternativas para seus caminhos propícios.
São
mentes exaustas em corpos supostamente renovados, prontos para outra. Porém,
esse fantasma que se agarra em cada ombro aqui é raramente reproduzido com
alguma preocupação realmente plástica – Grota, que construiu uma carreira
respeitável como diretor de curtas-metragens parece mais econômico e rigoroso
em seu debut. Assim, Leste Oeste é, ao todo, um filme sobre
deslocamentos de formas, que pouco se encaixam, de um incomodo geral. Articular
o desconforto sem que estes mundos (ou cacos) não tenham defasagens narrativas,
inclusive em suas forças é uma tentativa louvável, mas pouco eficiente afinal o
que está no extracampo é tão poderoso quanto o que Grota filma.
Por
mais que se reforce a dramaturgia – conforme o tempo passa, Leste Oeste é mais objetivo em suas
intenções, principalmente sobre o sentido e o sentimento de uma derrota -, Leste Oeste é um filme sobre adormecer o
que é bárbaro, o lado mais primitivo do homem, da frustração que esta
impossibilidade gera e articular com estes extremos é um risco louvável por
parte de Grota e também uma jogada delicada.
Conforme
o abismo é lentamente apresentado – profetizado desde o início do filme – há o
estreitamento dessas histórias. E as restrições, colocando essas vidas
alinhadas pelo consentimento silencioso de um futuro trevoso é uma espécie de
conformismo formalista em Leste Oeste,
de uma dinâmica passível ao fim do vigor, como se os personagens fossem
deliquentes, dignos do tratamento básico que a câmera os oferece. Cria-se,
portanto, uma dualidade poderosa: o filme possível que não veremos e o que há
de concreto; uma espécie de crueldade consciente que de encontro à trama
invariavelmente os julga, nos julga e é impiedoso na resposta.
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