O Irlandês (Martin Scorsese, 2019)


O êxito do cinema em dar intensidade às experiências teatrais ao potencializar o aspecto visual encontra uma lombada curiosa em O Irlandês. Aqui há a proximidade desses eixos, e o sentido de um não-isolamento no rigor da mise en scène com o mundo coagido por empresários e pela máfia criam um norte instigante. O Irlandês é uma espécie de musical em fade out, que se mostra qualificado em sua primeira hora apressada e que aos poucos toma consciência da passagem do tempo para seus personagens. O mundo preenchido pelo jazz e bluegrass sinaliza que está apto ao apagamento e Scorsese, obedecendo a cartilha do roteiro clássico, dedica os respiros finais a este desligamento geral - da vida e do legado, principalmente. O que cerca o filme, de certa maneira são alicerces comuns da filmografia de Scorsese: o pão, o vinho, as cores da bandeira. O que é intrínseco às questões éticas e morais num núcleo de ações deliberadamente indecorosas e seus detentores cobram princípios a todos que os cercam. Ali está a história da América do último século, nos ecos da primeira guerra e na compreensão de nova visão após a segunda, principalmente com a TV e imigrantes. Da construção de escândalos na penumbra para não chocar turistas e virar uma notícia que será diluída rapidamente. O que Scorsese filma é um tipo de pensamento que não coloca a bandeira a meio mastro e tampouco tem consciência que negar a morte não o torna imortal.

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