ECRÃ 2020

Prazeres Circunstanciais de Lewis Klahr
Prazeres Circunstanciais de Lewis Klahr

Aproveitando que o ECRÃ esse ano será online por circunstâncias que nos deixam trancados em casa há meses para escrever um pouco sobre os longas e médias do festival no qual sou curador. Obviamente indico todos os 26 filmes da seleção, mas aqui pretendo resumir rapidamente caso o espectador precise de um norte para escolher. Como a proposta inicial era fazer o nosso tradicional panorama mundial de experimentações audiovisuais na Cinemateca do MAM, com a mudança de cenário, eu e Gabriel, curador dos curtas, decidimos seguir com ela via streaming e sugerirmos alguma sessões duplas através das redes sociais. Nessa lista tem filmes de Rotterdam, Berlim, Locarno, Tiradentes e Cinéma Du Reel, para citar alguns festivais, mas acredito a grife é o que menos interessa na hora de indicar ou falar sobre os filmes, mesmo que rapidamente.

Seguindo somente com os longas e médias, a primeira complementação óbvia é o de Telemundo do James Benning, figura carimbada no ECRÃ, com o filme da Sofia Brito, A Verdade Interior. Dá uma linda sessão, a começar com o filme da Sofia e o do Benning como produto final. Outra sessão interessante é A Densa Nuve, o Seio do Vinicius Romero com Estático Após o Verão do Eli Hayes. Os dois juntos dão uma espécie de tempestade e bonança de atmosfera e imagens, entre o caos e a melancolia.  O mesmo posso dizer de Sono de Outono e Viagem Fantasma de Michael Higgins e Stephen Broomer, respectivamente. Neste caso, são filmes monocórdicos que intrinsecamente provocam um caos interno e a relação dos dois com a película é muito interessante. 

Ariadne de Jacky Connolly e Pressão Atmosférica de Peter Treherne são dois médias que usam a tensão estética como o mote de seu desenvolvimento - seguem por caminhos diferentes, mas costumo dizer nas reuniões de curadoria que, se visto primeiro, o filme de Treherne é uma espécie de bad trip para a crise de pânico que é filme de Jacky Connolly. Feito majoritariamente em machinima com o jogo The Sims, o filme de Connolly tem uma sugestão ao horror muito interessante. Já o de Peter é um filme melancólico e mais próximo do que gostam de chamar de slow cinema - que tem sua parcela bem representada com A Casa de Plástico de Alisson Chhorn. Talvez uma sessão tripla com os três médias caia bem. 

A união de experimentações e o discurso do pertencimento está em filmes como Calidris de Peter Azen, Cavalo de Rafhael Barbosa e Werner Salles, Estratos Fantasmas de Ben Rivers, O Documento Giverny (Canal Único) de Ja'Tovia Gary, É Rocha e Rio, Negro Leo de Paula Gaitán e A Forma do que Está por Vir de J.P Sniadecki e Lisa Malloy. Todos assumem o tom documental para debater questões raciais, imigratórias e espirituais. Diria que em comum todos eles tem uma força descomunal e têm ao menos uma sequência a levar por muito tempo na mente.

Outra tradição do ECRÃ é o diálogo direto com gêneros formalistas do cinema e que geralmente tem suas regras subvertidas: CidadeFantasma de Jon Cates, um filme narrativo feito majoritariamente de sobreposições e glitches e Sertânia de Geraldo Sarno, certamente o filme mais afiado da seleção. Filmes de imagens encontradas também são tradicionais no festival e sugiro a sessão dupla de Meu Pretzel Americano da Nuria Gimenez, uma espécie de carta-drama com imagens encontradas e 4lgunxs Pibxs do Raul Perrone, que usou seus arquivos para montar um filme sobre a juventude durante a quarentena. O filme do Erik Negro, Não Há Lado Sombrio eu recomendo que seja assistido sozinho, não pelo alto de seus 206 minutos, mas pela grande camada de informações que o filme oferece, com imagens do arquivo do próprio Erik, imagens de terceiros, músicas de diversas épocas, uma parabólica sensorial muito potente. E Eléonore Weber usa imagens de guerra para mostrar seus despropósitos em Não Haverá Mais Noite, um dos filmes mais fortes da seleção.

Gerações de Lynne Siefert é um filme estrutural apocalíptico que dá uma sessão interessante com Prazeres Circunstanciais de Lewis Klahr, quase uma antítese do filme de Siefert mas que colocam vida e morte em soslaio. 

 Encerro falando sobre os filmes narrativos com intervenções experimentais como Sofá de Bruno Safadi, Passou de Felipe André Silva e Revolução Lavanderia de Mark Chua e Lam Li Shuen, que sugiro como sessões de sábado à noite. 

Torço para que aproveitem e vejam o máximo de filmes no ECRÃ.

 

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