Canções Engarrafadas 1-4 de Chloé Galibert-Laîné e Kevin B. Lee
Certamente estamos cansados de resumir nossas vidas às telas durante a pandemia. O que era novidade há um ano atrás hoje já parece um terreno defasado. No entanto, creio que o pensamento que me incentivou na construção da lista de longas e médias do ECRÃ foi de um conceito em movimento com interesse antropológico inerente ao momento que vivemos. Desta maneira sugiro algumas sessões duplas ou triplas com os longas e médias selecionados para o ECRÃ 2021.
Filmes que se especificam por exercícios de textura, ruídos e experimentações unidos à linguagem como 52 Filmes Curtos de Frances Arpaia, Benjamin Zambraia e Autopanóptico de Felipe Cataldo, Imagem da Percepção de Guli Silberstein e Mudando de Sonhos de Mariana Dianela Torres casam e são filmes curtos. O maior deles, o de Arpaia, tem pouco mais de 90 minutos.
Canções Engarrafadas 1-4 de Chloé Galibert-Laîné e Kevin B. Lee me remete aos primeiros minutos de Videogramas de uma Revolução e fica evidente a influência que a dupla tem de Harun Farocki. Como é um filme pesado sobre o contemporâneo sugiro um alívio com Edição de Vídeos Digitais com Adobe Première Pro: Guia do Mundo Moderno Para Configurações e Fluxo de Trabalho, um desktop movie de horror muito interessante sobre linguagem, sobretudo.
Sombra de João Pedro Faro, Saxifraga, Quatro Noites Brancas de Nicolas Klotz e Elisabeth Perceval e Ste. Anne de Rhayne Vermette dão bons filmes para um sábado à noite, cada um a sua maneira. O filme de João Pedro é livre em sua essência, algo entre O Anjo Nasceu e Trash Humpers versão juventude black metal. O filme de Klotz e Perceval é uma declaração distópica sobre o passado e um (in)consequente futuro. O filme de Rhayne utiliza muito bem de seus métodos e da bitola para narrar uma deslocamento familiar - no emocional e na espacialidade.
Toda Luz que Podemos Ver de Pablo Escoto e S4D3 de Raúl Perrone usam do barroco como córrego para o pesadelo. O filme de Escoto através do analógico e o de Perrone pelo digital, dialogam com a fantasmagoria e de alguma maneira se completam no diálogo do vazio que o poder, no fim das contas, nos entrega. Outros dois filmes que me parecem complementares são o de Gustavo Vinagre, Desaprendendo a Dormir e o de Caetano Gotardo, Você Nos Queima. Dois filmes paulistas que dialogam com o estático e com o movimento, com a poesia e o rudimentar.
Existem os filmes que precisam de um espaço exclusivo independente de suas durações. É o caso de Apyawã (Tapirapé) Iraxao Rarywa, um filme-ritual de pouco mais de 40 minutos que guarda muito sobre resistência e força. Outro caso é o de Eu Ando Sobre a Água de Khalik Allah, uma epopéia de 3h20 sobre a amizade do diretor com o morador de rua Frenchie, um filme muito abrangente e que serve também como um confessionário do diretor. O novo filme de Michael Pilz, Como Amor Volume 1: 1987-1996 é um filme-tributo a Mekas e principalmente ao ato de debruçarmos sobre os filmes com tamanha paixão. Talvez um filme para encerrar o domingo. Liminal, a coletânea de curtas de Philippe Grandrieux, Lav Diaz, Óscar Henriquez e Manuela De LaBorde, por serem tão díspares, exige seu próprio lugar. Já Icemeltland Park de Liliana Colombo é como uma reação nervosa à uma reportagem que estabelece o nosso fim.
Termino com três filmes que dialogam diretamente com os corpos e espaços e cada um aborda filosoficamente e que cabem numa sessão tripla: A Última Imagem de Benedito Ferreira, Um Gato Sonha com o Norte de Diogo Oliveira e Venha Aqui de Anocha Suwichakornpong, filmes muito fortes sobre processo e arte.
O ECRÃ acontecerá online e gratuitamente entre os dias 15 e 25 de julho em www.festivalecra.com.br.
Bom festival a todos!
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