Sai a estética noir de Bellini e a Esfinge, que enriquecia o visual das ruas paulistanas e colocava Bellini numa posição de um real detetive brasileiro com seu charmoso Fiat Uno. Entra a estética moderna, picotada e avulsa para mostrar um detetive atormentado e imerso na letargia em Bellini e o Demônio, filme que guia a aventura do detetive Remo Bellini, agora com a psique desviada, pelo misticismo. Na verdade o filme ameaça seguir a estética do primeiro filme em seus minutos iniciais, mas acaba se destrambelhando para outro caminho.
Se por um lado, o filme não consegue transparecer sensações em cenas que seriam tão óbvias para isso acontecer, Marcelo Galvão consegue retrair o espectador em sua poltrona quando tende a explícita tentativa de se aproximar do cinema de horror americano. A esfera policial do longa toma um novo rumo. Não deve ser esquecida por completo, afinal Bellini é um detetive, mas entre um drama de um homem que simplesmente não consegue trabalhar e o horror dos crimes que estão nas mãos dele, a tensão é grande, mas o apelo visual (sangue, animais mortos e etc.) e técnico (trilha sonora, montagem) para que isso aconteça é exacerbado. Entre suas dinâmicas cenas, a tensão dá lugar a reações dormentes no meio de tantas tentativas de criar um clima claustrofóbico.
Em certo momento, essa dormência parece perder alguma informação passada pelo filme, pois a relação entre os personagens e de Bellini com o seu caso é incompreensível. Um quebra-cabeça foi montado. Fábio Assunção joga a favor. Detalhes meramente bobos parecem virar sérios motivos para a catarse de Bellini. Sua índole é colocada em prova. Infelizmente já é tarde demais para o filme ganhar o ritmo necessário, mas consegue dar um grande respiro antes dos créditos finais.
Bellini e o Demônio (Idem, Brasil, 2008) de Marcelo Galvão