O ano está acabando e com isso, as listas dos melhores do ano aparecem em todos os blogs, sites e revistas. E por aqui não será diferente. O critério usado para criar as listas dos piores e melhores deste ano foi: Ser exibido em circuito, festival ou lançado diretamente em DVD no ano de 2009 no Brasil, mas com data de produção entre 2008 e 2009. Sendo assim, ótimos filmes como Desejo e Perigo, Glória Ao Cineasta e Kurt Cobain – Retrato de Uma Ausência ficaram de fora. A mesmice talvez tenha sido a grande vilã do ano, tornando motivo de alguns filmes aparecerem na lista dos piores. Neste caso, é importante lembrar que não vi 2012 e Transformers – A Vingança dos Derrotados, filmes massacrados pela crítica. Já a simplicidade e a inversão de métodos construtivos ajudaram alguns filmes a figurarem na lista dos melhores do ano. Com vocês, os melhores e o piores de 2009!
PIORES DE 2009
10. A ERA DO GELO 3 (Ice Age, EUA, 2009) de Carlos Saldanha
Na tentativa de construir uma trama que agrade à pais e filhos exaltando os valores familiares em uma aventura que tem como grande novidade a reestruturação de seus personagens, o filme não é bem sucedido em sua proposta justamente por manter ilesas saídas previsíveis e cacoetes do gênero. Exibido em circuito.
09. BRUNO (Idem, EUA, 2009) de Larry Charles
Seguindo o mesmo molde usado no fenômeno Borat, Larry Charles e Sacha Baron Cohen prezam pela polêmica, pelo deboche e o inevitável choque de quem está por perto do fashionista. Porém, todas as questões comportamentais e políticas que o filme atentaria em discutir por um viés comum é esquecido. Se piada repetida não cola, o que dizer de uma que é repetida e mal contada? Exibido em circuito.
08. ESCÓRIA (Schoft, Holanda, 2009) de Heinrich Dahms
Ao retratar sentimentos extremos vividos pela juventude holandesa em Escória, o diretor Heinrich Dahms nada mais faz que entre a sobriedade e o caos, estender o seu primeiro ato de maneira rasa até o inevitável e morno conflito final, deixando de lado o debate calçado na xenofobia e no prazer instantâneo para buscar a desdramatização e a aproximação com a realidade. Mesmo com bom potencial técnico, a necessidade de um bom texto pulsa por toda sua duração. Exibido na Mostra de Cinema Indie.
07. A FRONTEIRA DA ALVORADA (La Frontière de L’aube, França, 2008) de Phillippe Garrel
O fascínio pela imagem, o sobrenatural e um romance preso ao melodrama compõem os guias narrativos do filme de Philippe Garrel que no fim das contas é uma obra demasiadamente arrastada. Sua imposição abstrata dá a noção de um trabalho irregular em relação ao seu ritmo e exposição de seus personagens. Exibido em circuito.
06. VALSA COM BASHIR (Vals Im Bashir, Israel/Alemanha, 2008) de Ari Folman
Redundante para narrar a história e compartilhar informações. Oscilante em sua linguagem e com isso, o impacto de sua caótica beleza é perdido como conseqüência. No meio dessa irregularidade, temos um belo momento: A Valsa. Pena que o filme não carrega a força poética que ela tem. Exibido em circuito.
05. EMBARQUE IMEDIATO (Idem, Brasil, 2009) de Allan Fiterman
Se a realização de sonhos longe do país de origem poderia levar ao filme aberturas para discutir temas importantes, o que Allan Fiterman faz é um caminho óbvio, num ritmo novelesco e sem sal. No meio de tantas irregularidades e saturações de gênero, não há muita coisa que podemos destacar. Seus personagens não são construídos com clareza, existem diversas cenas avulsas, forçadas e incoerentes, que só mesmo um público absurdamente passivo aceitaria embarcar imediatamente em sua viagem. Ela não leva a nenhum algum relevante. Exibido em circuito.
04. X-MEN ORIGENS: WOLVERINE (X-Men Origins: Wolverine, EUA, 2009) de Gavin Hood
Wolverine é o maior cara-de-pau das histórias em quadrinhos. Beberrão, briguento e sempre de péssimo humor. E tudo isso passa em branco no longa de Gavin Hood, que nada mais é que um filme de herói sem criatividade com todas suas dobraduras calculadas para cativar – e subestimar - todo tipo de público e conseqüentemente vangloriar altos números nas bilheterias. Exibido em circuito.
03.POLYTECHNIQUE (Idem, Canadá, 2009) de Denis Villeneuve
Entre os bucólicos takes de uma fria Montreal e o brutal acerto de contas de um jovem rancoroso, o que Denis Villeneuve nos oferece de melhor em Polytechnique é mostrar uma compaixão contrária a toda arbitrariedade do protagonista, que é dominante na narrativa. Infelizmente, o seu resultado é irregular. Talvez pela escolha da ação pelo aspecto físico e não pelo psicológico ou simplesmente por não aproximar os personagens de forma coesa com a platéia. Exibido no Festival do Rio 2009.
02. MESA DE BAR – ONDE TUDO ACONTECE (Idem, Brasil, 2009) de João Uchoa
Vendido como um filme sem diretor, sem roteiro e sem atores, Mesa de Bar nada mais é que um exercício de paciência para o espectador. Indo totalmente contra a célebre frase de Glauber Rocha, João Uchoa só tem apenas a câmera na mão, pois a idéia de se fazer cinema é inexistente. Fora isso, as seis esquetes que tentam abordar diversos temas do cotidiano com humor deixariam Carlos Alberto de Nóbrega orgulhoso de seu trabalho. Exibido em circuito.
01. OS NORMAIS 2 - A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS (Idem, Brasil, 2009) de José Alvarenga Jr.
Se faltam idéias para um roteiro e um elenco que eleve a qualidade do filme que anda sobre a tênue linha entre sucesso e o fracasso imposto pela palavra “seqüência”, seria a espera a melhor saída? Pois a nova investida para o casal Rui e Vani nas telonas não acerta em absolutamente nada. Tudo parece gratuito e principalmente desesperado demais.Exibido em circuito.
Menções desonrosas: A desastrosa tentativa de Phil Claydon em unir (ou copiar?) Edgar Wright e Judd Apatow em Matadores de Vampiras Lésbicas; Por não saber unir um filme biográfico às cenas de ação, Besouro é um filme sobre nada; O dormente e nada reflexivo O Leitor; O presunçoso método de montagem dos dilemas de Bella Swan em Lua Nova; O pobre romance e a fascinação pela rebeldia sem maiores reflexões de O Grupo Baader Meinhof.
MELHORES DE 2009
10. ABRAÇOS PARTIDOS (Los Abrazos Rotos, Espanha, 2009) de Pedro Almodóvar
Almodóvar cria um drama envolvido pela atmosfera do suspense, deixando (não totalmente) sua veia folclórica de lado. Abraços Partidos é uma história de superação e perdão, mas antes de tudo, um filme sobre filmes. Sobre mergulhar em um novo mundo. Uma declaração de amor ao cinema, incrustada em gêneros funcionais e apaixonantes. Exibido em circuito.
09. O FANTÁSTICO SR. RAPOSO (The Fantastic Mr. Fox, EUA/Inglaterra, 2009) de Wes Anderson
Retendo o que há de melhor na sistemática de seus trabalhos, Wes Anderson migra para a animação e cria um óde a simplicidade e a adversidade ao conformismo. Passando longe da estética das animações contemporâneas, o diretor preza pela mensagem em primeiro lugar e com cuidado, desenha âmago de seus personagens com ótimo humor. Exibido em circuito.
08. ADRENALINA 2 (Crank 2, EUA, 2009) de Mark Neveldine e Brian Taylor
Se exagero era a palavra de ordem de Adrenalina, a seqüência que aparentemente não teria uma explicação plausível para existir, vira um grande motivo para aparecer na lista dos melhores filmes do ano. Violência, humor negro, o absurdo e a falta de pudor vêm em dobro no formato de um vídeo clipe de 90 minutos, acompanhada da trilha do não menos insano Mike Patton. E quando você acha que as coisas não poderiam melhorar e passar dos limites, Mark Neveldine e Brian Taylor ousam e mandam narrativas e regras do cinema às favas. Lançado diretamente em DVD.
07. DISTANTE NÓS VAMOS (Away We Go, EUA/Inglaterra, 2009) de Sam Mendes
É certo que estamos diante do próximo filme-cult-com-fãs-pentelhos. Mas o longa faz por onde. Ele tem sua base fincada numa forma contemporânea de se construir comédias no chamado “cinema independente americano”. O trampolim de suas piadas é criado a partir de choque de culturas ou pelo conflito entre a suma importância e a displicência de se deparar costumes diferentes. Recheado com trilha sonora folk e aura modernosa, o filme preza pela compaixão e respeito mútuo e ainda acha espaços para fazer pequenas criticas a maneira comodista de se manter um relacionamento. Exibido no Festival do Rio 2009.
06. JCVD (Idem, Bélgica/Luxemburgo/França, 2008) de Mabrouk El Mechri
Um manifesto contra o império hollywoodiano e o culto a imagem. Jean Claude Van Damme também aproveita para fazer de uma forma debochada, críticas à métodos narrativos. Em certo ponto do filme, Van Damme vira para a câmera e mostra seu desdém à Hollywood, mantendo um diálogo direto com o espectador, usando o dispositivo como um instrumento anárquico. Ele relembra sua ascensão e queda, mas sabe muito bem a quem culpar: a indústria cinematográfica. Lançado diretamente em DVD.
Até onde nós podemos ir por uma falsa idéia de felicidade, igualdade e justiça? Sob um vazio ideal, o senso de coletividade e a decrescente fé na humanidade, A Onda de certa forma aproxima a Alemanha atual da época de Hitler, algo que é reforçado no último ato do longa. Pois a necessidade de um líder em vidas tão precocemente largadas parece ser a melhor solução. Ser domado parece ser uma boa saída para quem, sem sabedoria, já saturou da liberdade. Exibido em circuito.
04. FROST/NIXON (Idem, EUA/Inglaterra/França, 2008) de Ron Howard
Um dos momentos mais marcantes da política americana e adaptação da peça homônima são registrados por um Ron Howard como há muito tempo não se via. Focado em detalhes e estimando seu público por não mastigar a história e sim usar sua câmera como uma testemunha de maneira dinâmica, o longa faz uma ótima equivalência entre conteúdo e uma construção mais acessível, digerível. Exibido em circuito.
03. BASTARDOS INGLÓRIOS (Inglorious Basterds, EUA/Alemanha, 2009) de Quentin Tarantino
Cheio de referências, diálogos matadores, linguagem pop, e violência, Tarantino distorce a segunda guerra mundial de maneira fantástica para homenagear o cinema. Fazendo o oposto da cartilha do gênero, ele cria uma releitura desses filmes, sem esquecer a veia panfletária e muito menos seus maneirismos de cineasta. Exibido em circuito.
02. ÁGUAS TURVAS (DeUsynlige, Noruega/Suécia/Alemanha, 2008) de Erik Poppe
Um diretor sugere que seu público julgue o protagonista de sua história. Pois quando aparentemente acompanharemos uma história linear de superação e uma conseqüente conquista de empatia - algo que ditadura hollywoodiana nos acostumou a ver -, o diretor Erik Poppe contorna e nos situa dentro de outra esfera: A de ser julgado. Águas Turvas é uma gangorra de sentimentos onde a dor é o seu carro-chefe. Exibido no Festival do Rio 2009.
01. ANTICRISTO (Antichrist, Dinamarca/Alemanha/França/Suécia/Itália/Polônia,2009) de Lars Von Trier
Anticristo é uma obra densa, intensa. O sadismo que vem da personagem de Charlotte Gainsbourg e da certa passividade de seu marido toma proporções maiores quando Lars Von Trier os deixa presos em seus planos fechados e extremamente claustrofóbicos. Mas, para catalisar a dor, existe o prazer da carne. Hora de questionar o comportamento humano, ao mesmo tempo em que a noção bíblica também pode ser motivo de discussão. É impressionante como a tensão é mantida por toda duração do longa, fazendo um caminho inverso do usual, pois os macetes da pós-produção só servem para ironizar a intenção do choque. Imagens fortes existem sim, todas justificadas e que servem para acentuar a insanidade e o sadismo, cercados pela natureza – literalmente falando ou não – e vítimas de uma escolha ocorrida no jardim do Éden, o que fica mais claro no epílogo dicotômico, mas não menos genial. Exibido em circuito.
Menções honrosas: A volta de Sam Raimi ao gênero que o consagrou no assustador Arraste-me Para o Inferno; Os fantasmas do passado e a reflexão sobre a morte no vencedor do Oscar de Melhor filme estrangeiro A Partida; O sonho de fugir do marasmo e da falta de opções em Lake Tahoe; O particular acerto de contas em Gran Torino; A materialização da felicidade em Loki, documentário sobre o músico Arnaldo Baptista.
É isso, amigos. Agradeço a todos que visitam o site, comentam, citam, acompanham pelo Twitter ou divulgam o Cinema O Rama de alguma forma. Se não fosse por vocês, já teria dado um fim nisso aqui. Tirarei uns dias de descanso, mas volto à programação normal em 2010. Não se esqueçam de deixar seus comentários sobre as listas. Um grande abraço e até ano que vem! (:
Bastardos Inglórios na minha opinião é o melhor do ano, mas gostei das suas listas. A Era do Gelo 3 não é bom? Acredita que eu nem vi ainda... tenho o DVD aqui, mas não conferir ainda, vou me atualizar.
ResponderExcluirAbraço!
Feliz Natal e um ótimo 2010 ;]
Adrenalina 2 é MUITO ruim, e faltou A Fita Branca, 500 Dias com Ela...
ResponderExcluirNão concordo com todos os filmes, mas de resto tens aqui boas escolhas, especialmente nos melhores filmes.
ResponderExcluirBoas escolhas!
ResponderExcluirAdicionei ao blogroll do Cineamador. Abraços...
Os Piores: Bem, mais uma vez me desculpe. xD E você foi muito bonzinho - apesar de não ter visto Os Normais 2 -, se eu fizer lista de piores no blog, ele será top 1, sem dúvidas. A Fronteira da Alvorada foi decepcionante, bizarro demais. Bruno também, constrangedor.
ResponderExcluirDos melhores, não vi muitos. =/ Águas Turvas eu só vi porque disse que era top, e não achei tudo isso, apesar de bom, mas tá longe de entrar no meu. Me surpreendi MUITO com a presença de Adrenalina 2! Quer chocar? xD E Anticristo nem entra no meu top 10, nem 15. hoho
Feliz Natal e ótimo 2010, meu caro! []s!
ResponderExcluiropa, listaça de primeira, hein? o que discordo é A ONDA entre os melhores, achei muito fraquinho.
A onda é um dos meus preferidos. ;)
ResponderExcluirPedro Tavares és um cobarde invejoso.
ResponderExcluirCara, eu respeito demais sua opinião, quero deixar isso bem claro, mas para mim "Anticristo" deveria estar entre os 10 piores, e não entre os 10 melhores. ;)
ResponderExcluirNo geral, a lista está muito boa, mas gostei de Valsa com Bashir.
ResponderExcluirabraços
Pelo visto, você não foi mesmo com a cara de Avatar, hein? Nem nos 10 primeiros do ano vc o incluiu e eu pensando em colocar no melhor da década, hehe...
ResponderExcluirSobre os piores, discordo de Valsa com Bachir... pra mim, um dos grandes da temporada 2008... torcia por ele em melhor animação e filme estrangeiro no último Oscar.
E por fim, concordo em número, gênero e grau: Anticristo também foi para mim o melhor filme 2009!
FELIZ ANO NOVO!
engraçado... eu achei o anticristo um dos piores do ano e valsa com bashir um dos melhores!
ResponderExcluirhehehe
mas curti a lista no geral, abs!
Pedro, enviei-te um e-mail importante.
ResponderExcluirTirando as discordâncias, temos em comum "Bastardos Inglórios" nos melhores e "Os Normais 2" nos piores.
ResponderExcluirAnticristo parece ter agradado a muitos, porém foi pra mim um filme de total mau gosto!
ResponderExcluirPara Valsa com Bashir vai para os melhores do ano...
ResponderExcluirDou apoio total ao seu primeiro lugar. Acredito que estão subestimando o longa do von Trier. Dificilmente outras pessoas o colocariam no topo de suas listas, aliás, se o colocassem entre os 10 mais. Para aqueles que não gostaram do longa, que o revejam com mais calma, e entendam o que de fato é um bom filme de terror psicológico.
ResponderExcluirSo não concordo com "Valsa com Bashir" ficar entre os piores.
Abraço.
Boa! Lars von Trier em primeiro! Subscrevo!
ResponderExcluirListas são sempre controversas, e gosto é gosto. Não concordo com os O Leitor e Valsa com Bashir como piores. O Leitor certamente está entre os melhrores em minha opinião.
ResponderExcluirJá para melhores, gostei de Anticristo (mesmo abaixo dos melhores de Trier) porém não foi o melhor, para mim. Também gostei de Abraços Partidos na lista e de Gran Torino na menção. Pra mim o melhor foi Entre os Muros da Escola.
Cara, o legal de fazer lista de melhores/piores é que é o nosso gosto, e podemos lembrar das experiências tristes e felizes que tivemos durante o ano, sem consultar a opinião de ninguém. haha
ResponderExcluirIncrível como seu gosto é diferente do meu! Em minha lista o Anticristo NUNCA estaria em primeiro lugar (e olha q sou fã de tudo que Lars Von Trier já fez, mas acho que na hora de finalizar o Anticristo, o cara se perdeu, se excedeu, só porque pode se dar a esse luxo). Concordo com você quanto à Onda, Bastardos Inglórios e Abraços Partidos. Gran Torino também é um filmão, mas senti falta na sua lista de Avatar e Entre os Muros da Escola.
Enfim, discordâncias sempre são saudáveis!
Abraço