DANÇANDO COM O DIABO

O vencedor do Oscar de melhor documentário por Anne Frank Remembered, Jon Blair coloca a cabeça do espectador como um liquidificador em seu novo filme. Dançando com o diabo foi muito comentado antes mesmo de ser exibido no Festival do Rio por simplesmente não ter uma posição incrustada em suas imagens. Blair mostra, sem intenções sensacionalistas, o dia a dia de chefes do tráfico, policiais e um pastor, que é a única autoridade entre os bandidos e que pode transitar livre e ousadamente pelas comunidades com intuito de salvar vidas já condenadas pelo tráfico e salvar a vida dos traficantes, espiritualmente falando.

Ao se infiltrar no dia a dia do tráfico e apresentar à intimidade de nomes como Tola e Aranha, Blair nos mostra uma nova imagem para um estereótipo criado pelas situações extremas de violência nas grandes metrópoles. Em geral, eles gostariam de se livrar dessa vida. Os policiais, talvez por ordens superiores, gastam o tempo com inutilidades que os “funcionários” do tráfico resolverão em poucos minutos. A tensão dos policiais é imensa e a sensação é de ter a morte caminhando ao seu lado diariamente, como um deles diz em certo momento do filme.

Blair acerta por desconstruir esses personagens através dos dias e nos mostra que atrás de poses, armas, complexidades, contradições e medalhas, existe um sonho de mudança usando um ponto em comum nos três pólos estudados: A fé. O pastor Dione tem a missão de mudar a vida dos traficantes através da palavra de Deus. Foi bem sucedido em algumas obras e conseguiu selar a paz entre algumas comunidades, mas ainda tem o dever de salvar vidas que anteriormente teriam um final trágico, que agora a partir de um acordo com Aranha, chegam à igreja gravemente feridos, mas com uma segunda chance: a de achar um novo caminho para viver. Os policiais, apesar da dedicação e da adrenalina, tem a grande mancha criada pela má índole de alguns companheiros. Fora a obrigação de manter a segurança e a paz em locais perigosos, a luta também é para reverter um quadro criado pela sociedade. 

Os traficantes lembrarm que fazem parte de uma indústria, que cria empregos para pessoas que não tiveram oportunidades e suporte do governo, que segundo eles, também está interessado no dinheiro gerado pela venda de drogas quando investem em armas, carros blindados e deixam pessoas morrendo nos hospitais. Eles, se pudessem, sairiam dessa vida, apesar da estabilidade financeira. O preço da liberdade para eles é alto e o risco de perder a vida a qualquer momento os coloca em um estado de alerta e tensão eterno.

Apesar de um fechamento pessimista, o que vale no trabalho de Blair, é  a nova proposta para mostrar o terror na cidade do Rio de Janeiro por quem está no meio dele, sem acusações ou estudos maiores sobre a falta de recursos e ajudas governamentais. Cada um, a sua maneira, ajuda a manter a paz nas comunidades, com intenções distintas. As conseqüências são mostradas por Blair em seus minutos finais. O espectador, leva consigo uma mente borbulhando com questões existenciais e sociais.

Dançando com o diabo (Dancing with the devil, Inglaterra, 2009) de Jon Blair

4 comentários:

  1. Esse filme é muito bom , e seu site é sensacional

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  2. Sei que é importante fazer comentários contextuais à matéria, mas vou interromper para elogiar seu site, que é sensacional.

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  3. muito bom oq vcs mostram no filme mais nom concordei no final quando passa o interro do aranha pq nom foi vasio e tbm teve omenagens aki msm na comunidade e foram varios moradores q apesar do modo em q ele ganhava a vida ele era uma pessoa exelente saudades de vc mano g.t.a !!!

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  4. Gostaria de saber quando o filme estará disponivel para o Publico em locadoras ou em cinemas a nivel Brasil???

    Obrigado

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