O diretor sérvio Emir Kusturica acerta quando escolhe estudar o lado mais obscuro do maior ídolo argentino, o ex-jogador Diego Armando Maradona. Quando digo “obscuro”, não me refiro aos escândalos envolvendo os vícios e brigas do ex-jogador, mas por tocar em assuntos esquecidos pela mídia e fazer o jogador refletir sobre sua vida numa espécie de análise itinerante.
Seria óbvio demais – mas não menos interessante – fazer um documentário contando a história do jogador com intuito de colocá-lo em uma posição que ele nunca saiu: a de herói. Kusturica compara sua carreira de diretor e métodos de filmagens com o comportamento de Maradona. Seja pelas inseguranças e os prós e contras de ser um documentarista ou através de metáforas, o diretor mostra suas identificações com o seu personagem principal. Segundo o diretor, se Dieguito não fosse um craque dos gramados, seria um grande revolucionário. A sede de justiça e senso político do ex-jogador parece ser o novo guia de sua vida. Ele afirma que pequenos países podem se vingar de tantas injustiças através dos esportes e lembra a incrível vitória da Argentina contra a Inglaterra durante a copa do mundo de 1986, que serve como alvo para Kusturica abrir diversos assuntos sobre a vida do jogador e suas reflexões.
Pela voz-off, Kusturica conta suas conclusões sobre esta figura peculiar que até uma igreja ganhou. O casamento pela igreja “Maradoniana” é surreal. Mesmo com esta forma interessante, o filme dá alguns tropeços por largar cenas avulsas, sem um norte para o público ter como guia, nem posição emocional, nada. As cansativas inserções de animação de Maradona fazendo justiça com os próprios pés também tiram o bom ritmo do filme, que busca apenas mostrar como Maradona é, sem procurar respostas e muito menos motivos para atitudes e escolhas do jogador. Maradona abaixa sua faixa de ídolo para mostrar que é feito de carne e osso, que tem fraquezas e que também erra por escolha própria, sem sensacionalismos maiores.
★★★
Maradona (Maradona by Kusturica, Espanha/França, 2008) de Emir Kusturica
Li que é bem politizado mesmo, interessante. Não é a toa que ninguém que fazer filmes sobre o Pelé. haha
ResponderExcluirFiquei muito curioso, vou procurar este documentário.
ResponderExcluirAté mais
Confesso que sustento grandes expectativas com relação ao diretor do notável "Quando papai saiu em viagem de negócios", e não devo ser a única.
ResponderExcluirO filme parece trazer um ponto de vista interessante sobre o ídolo, mas me pareceu em seu post, que mesmo evitando colocar Maradona nessa posição, o diretor Emir Kusturica manda o recado de que o cara estava fadado ao estrelato, seja no futebol ou na política, ou seja, de um jeito ou de outro continua a colocar a figura de Maradona como herói.
ResponderExcluirFilme interessantíssimo. Onde se pode encontrar o DVD pois quero presentear um amigo?
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