Dicotômica como seu título, a nova parceria entre Beto Brant e o escritor e roteirista Marçal Aquino parece uma avalanche de pessimismo mesmo com possibilidades de fuga e recomeço para Lavínia (Camila Pitanga em entrega surpreendente), ex-garota de programa que acompanha seu namorado e pastor Ernani (Zé Carlos Machado) em missão no Pará enquanto mantém relação extraconjugal com o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado). Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios sustenta-se pelos diálogos de via dupla e fragmentos e se configura como uma partilha de reações viscerais.
Da comparação do culto evangélico ao circo à instabilidade de todos os personagens, a adaptação do conto do próprio Aquino declara-se a rendição; de uma forma ou outra, lentamente, é possível desconstruir os personagens entre cansativo balé de fades. Atrás da verborragia, dos surtos e das citações poéticas, nada mais existe além da vontade de entrega – de deixar-se levar pela correnteza; pelas piores notícias.
Caótico como a idéia do fim (dos tempos, de uma relação ou da vida), o filme de Beto Brant é a ilustração deste raciocínio. O flerte com o lamento, a idéia de continuidade, o luto e a banalidade no sentido da vida, que pode render seqüelas irreversíveis.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (Idem, Brasil, 2011) de Beto Brant e Renato Ciasca
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