Shame é um exercício estilístico que tem o desconforto a seu favor pela delicadeza do tema-chave: o sexo como conformidade, afirmação, escapismo e conseqüente vício. Como no antecessor Fome, o filme de Steve McQueen tem sua força maior nas cenas regidas pelo silêncio, quando a sugestão de comunicação com a alma do protagonista é explícita.
O peso da rotina de Brendan (Michael Fassbender) – trabalho, sites pornográficos, sexo com desconhecidos – é composto por jogos de sombras, planos e sugestões que dialogam com Sissy (Carey Mulligan), contraponto para a realidade e personificação da ambigüidade que o sexo tem para Brendan (como uma cortina abrindo e revelando segredos), pois o encontro forçado entre eles e o choque com o real ganham mesmo espaço e impacto.
Lentamente Shame se revela um panorama pessimista sobre comportamento e conseqüências de um tempo de urgência e superficialidade; apesar do crescente desprezo e indiferença, nós, em algum lugar, temos sentimentos e pagaremos por nossos atos – peso, culpa, (in) satisfação se misturam para Brendan, mas o sentido da obra cabe a qualquer um.
Shame (Idem, Reino Unido, 2011) de Steve McQueen
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