Na quarta e última parte da tetralogia do poder, Aleksandr Sokurov adapta a obra homônima de Goethe originalmente dividida em suas partes (complexidade e romance). Sokurov traça a equivalência entre os dois extremos com liberdade; seu exercício é metafísico pautado no conflito existencial de um homem focado na ciência sob a força espiritual que rege uma paixão.
Analogias ao percurso de uma vida cristã são sinalizadas sem pudor. O Deus de Sokurov não possui esplendor. Da falsa idéia do total conhecimento à experiência com o divino, Fausto se transforma em Mefisto e o Salvador em enfermo – analogia em torno da idéia social: política e povo. Coeso e em tom monocórdico, Fausto trata silenciosamente e de forma barroca (narrativa e estética) seus personagens – até o mais vívido possui palidez suficiente para nos questionarmos sobre até onde existe vida (e morte) na poesia.
Referente à forma estática de uma pintura, o filme é incômodo pela metodologia e não pelo impacto do conflito que domina o protagonista; discutir o que transforma vísceras em peso morto – bem sinalizado na sequência inicial – não parece suficiente para distanciar as idéias de Sokurov da dormência indelével que o retrato de um mundo desalmado e frio traz ao espectador.
★★★
Fausto (Faust, Rússia, 2011) de Aleksandr Sokurov