INCÊNDIOS


Em pauta, a guerra sem fim entre cristãos e muçulmanos. Esqueça qualquer inserção temática tendencionalista ou a utilização do mesmo para elevar impactos melodramáticos. Incêndios é visceral e aposta na crueza ao cruzar décadas deste conflito, fragmentando a narrativa baseada na peça de Wajdi Mouawad e criando uma dinâmica muito interessante com o público quando expõe a história de irmãos à procura da verdade sobre a formação e desfragmentação de sua família.

Em pequenos capítulos, que servem mais como dicas para o espectador montar o quebra-cabeça sugerido por Dennis Villeneuve, a história/martírio se dissolve em cortes secos e na ausência de elementos extra tela. O caos emocional que espelha interesses políticos e religiosos não é confundido pelo diretor, que outrora fez o fraquíssimo Polytechnique.

Incêndios é um daqueles filmes gostosos de acompanhar não só pela composição dramática do texto e da excelência exercida nas atuações, mas pela fragmentação – nada pretensiosa vale dizer, que ressalta a potência da resolução de cada ato e resgata um costume perdido há um bom tempo no cinema: o de dialogar com o público e saber a potência ilusionista que a arte tem.

 
Incêndios (Incendies, Canadá/França, 2010) de Denis Villeneuve

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