Bendito Acaso é a síntese da tendência sabotadora que cultivamos quando algo está para dar certo. O desejo pelo problema e pela dificuldade. O abismo entre Simone e Hannes serve como ilustração para a diretora Isabelle Stever lamentar esta eterna desconfiança.
Simone conheceu Hannes numa festa réveillon e na mesma noite, engravidou. Surpresa pela ótima recepção do rapaz à notícia, Simone inicia, assim, uma intensa relação com o futuro. Ao se limitar a tal análise por um só modelo, Bendito Acaso cai em redundância, arrastando a narrativa, esmerilhando cada ponto do conflito da protagonista, sempre comandados pelo pessimismo.
A montanha russa emocional de Simone se confunde com o tempo de gravidez: a insegurança é crescente e envolve ciúmes, vaidade e principalmente o inexplicável desejo de tomar um caminho mais árduo, que foge de um estilo de vida despreocupado e das facilidades que seu namorado traz – mesmo sabendo que não achará conforto em outros braços.
Stever utiliza cenas regidas por situações constrangedoras sob o ideal silencioso e sabotador de Simone para analisar até onde esta tendência pode ir. Para a futura mãe, sua prisão domiciliar é o maior motivo para a criação de obstáculos para o sucesso da família. Mas, afinal, o que é sucesso? A cena final talvez possa nos responder.
★★
Bendito Acaso (Gluckliche Fugung, Alemanha, 2010) de Isabelle Stever
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